Em agosto de 88 o My Bloody Valentine lançou “You made me realise” e de uma forma geral (re)inventava uma parada que já existia ali no submundo do rock lado B, o shoegaze. Era a estreia de Mr. Shields e cia. na Creation Records de Alan McGee e, porra, mesmo que tivessem parado ali seu nome já estaria escrito na história da música. Mas não pararam.

Ao invés disso se enfurnaram em algum canto na roça do País de Gales para trabalhar naquele que seria seu primeiro disco cheio – se considerarmos que This is your bloody valentine é um mini álbum -, mas antes de entregarem ao mundo o mais que clássico Isn’t anything ainda serviram no halloween daquele mesmo ano um aperitivo aos esfomeados por aquela barulheira que haviam recém criado, Feed me with your kiss.

No disco que viria um mês depois só a faixa título do EP se fez presente, mas tem duas coisas em particular nas suas quatro canções que o My Bloody Valentine já vinha aperfeiçoando desde 87 e que aqui estão cristalinas, tanto que são marcas d’água também em Isn’t anything e tudo que veio depois: a relação de amor obsessiva entre Kevin Shields, o tremolo e suas possibilidades + as viradas de bateria aceleradas de Colm Ó Cíosóig.

E se Feed me with your kiss não é – ao menos para a imprensa especializada – tão ‘oh my fucking god’ quanto You made me realise, repare na riqueza do EP, na influência garageira e no poder explosivo das duas primeiras músicas e no fato de que, uma vez gótico, sempre gótico (mesmo distorcido, borrado, com tesão e chapado) como se comprova em “I need no trust”.

Essas pequenas narrativas com a história do MBV voltam mês que vem, com o capítulo sobre o álbum que sobreviveu a um dilúvio e o sample que não é da Madonna. Até lá!