Imigrantes viram empresários para driblar o fechado mercado suíço

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16 de março de 2017
Imigrantes viram empresários para driblar o fechado mercado suíço

Se as empresas não me aceitam, eu crio a necessidade lançando o meu produto. Esse pensamento resume um perfil de pessoas que busca uma colocação profissional na Suíça: a de pessoas que emigraram.

Capacity Zurich auxilia estrangeiros que queiram começar um negócio ou estabelecer uma iniciativa cultural e social no país. 

Capacity Zurich auxilia estrangeiros que queiram começar um negócio ou estabelecer uma iniciativa cultural e social no país.

(swissinfo.ch)

Com permissão para trabalhar e muitas vezes qualificados, ficam presos no bloqueio do fechado mercado suíço. Abrir o próprio negócio pode ser a única opção para muitos deles diante dos inúmeros obstáculos que impedem a inserção no mundo corporativo. O empreendedorismo, dessa forma, apesar de ser uma chance de inserção ao mesmo tempo muito instigante e promissora, pode se tornar uma alternativa mais arriscada, por ser tocada por estrangeiros em terras parcialmente desconhecidas.

Na última década foram criadas cerca de 400 mil empresas na Suíça (algumas estatísticasLink externo). Cerca de 70 por cento desses negócios pertencem a suíços e 30% a estrangeiros, oriundos de diferentes países. De acordo com estudoLink externo preparado pela Crif para o jornal suíço Tages-Anzeiger, publicada em outubro de 2016, a estatística sugere que os estrangeiros teriam um perfil mais arrojado do que o povo local, o que não é surpresa, já que imigração denota risco e coragem para enfrentar novidade.

Empreendedorismo de mãos dadas com imigração – A pesquisa realizada em 2013 pelo Serviço de Informações Econômicas da Consultoria Bisnode D&B diz que 40% das empresas e 75% das startups de alta tecnologia na Suíça são fundadas por pessoas de outros países, número ainda maior que o estudo da Crif. O estudo confirma que os estrangeiros mostram uma grande abertura para fundar suas próprias empresas.

* Artigo do blog "Suíça de portas abertas"Link externoLink externo da jornalista Liliana Tinoco Baeckert.

Infelizmente não é exclusividade da Suíça o fato de os cidadãos de outras nacionalidades serem ignorados quanto ao reconhecimento da importância na geração de renda. Basta acompanhar a polêmica do presidente Donald Trump e demonstrações pela Europa sobre a contribuição dos imigrantes para com a prosperidade mundial, com a criação de postos de trabalho e com diversidade de ideias para países que precisam de novidades.

De acordo com Peter Drucker, autor do livro Inovação e Espírito Empreendedor (1987), esse perfil de pessoas sempre inova e a renovação constitui-se em instrumento especifico desse espírito, que tem a nova capacidade de criar riquezas. E existe algo mais ligado à reinvenção que a emigração?

Os pontos fortes em se abrir o próprio negócio são óbvios para qualquer um: geração de renda, de emprego para o indivíduo e para o meio onde vive, além da realização pessoal. Os pontos sensíveis estariam em detalhes como visão enviesada do mercado, enxergado com olhos da antiga cultura; no desconhecimento da língua, na falta de apoio e aconselhamento técnico e na reduzida rede de contatos. Dessa forma, vale a pena o preparo, porque há um enorme mercado esperando por novas ideias.

Visão cultural ampliada

Desconhecimento do mercado e visão enviesada da realidade cultural do país de acolhida devem ser evitados a todo custo. A treinadora intercultural e especialista em recolocação executiva internacional Anne Claude Lambelet explica que esse é um ponto suscetível importante, principalmente no caso de pessoas de outras nações. De acordo com Lambelet, muitos imigrantes avaliam o país de acolhida sob a ótica que trazem de suas nações. A consultora tem experiência de mais de 25 anos em ajudar estrangeiros a buscar emprego ou montar negócio, tem sua própria empresa da ACL consultoriaLink externo e é presidente da Sociedade para Educação, Treinamento e Pesquisa Intercultural – SIETAR/Suíça, sigla em inglês para Society for Intercultural Education, Training and Research.

A consultora conta a experiência de uma cliente, que queria importar dos Estados Unidos para Genebra lâmpadas e decoração de natal que ela achava que não havia na Suíça. "Tentei convencê-la de que apesar de funcionar maravilhosamente na América, isso não iria vingar aqui. As pessoas iriam reclamar dos custos da decoração, repassados aos cidadãos em forma de imposto. A proposta não era ecológica, já que usava muita energia elétrica, um recurso limitado. Além disso, a cidade compraria uma vez, mas não renovaria a decoração anualmente, já que o consumismo não é um fator preponderante na Suíça", explica Anne-Claude, ao falar da perspectiva baseada somente na cultura de origem e a necessidade de ter o olhar de peixe, que é a capacidade de ver em 360 graus, sob todos os ângulos.

Anne-Claude Lambelet alerta para os riscos de visão limitada sobre a cultura do país de acolhida.

Anne-Claude Lambelet alerta para os riscos de visão limitada sobre a cultura do país de acolhida.

(swissinfo.ch)

Dessa maneira, a especialista aconselha: contrate um coach, um especialista que possa guiar e ajudar na tomada de importantes decisões, faça um estudo detalhado do mercado, uma investigação dos concorrentes, dos hábitos de consumo, das oportunidades reais de nicho e, sobretudo, um plano de negócios, o conhecido "business plan".

Quando o dinheiro é curto mas o projeto interessante

Apoio técnico e aconselhamento custam caro. Mas não é por isso que o estrangeiro precisa desistir. Se a ideia é boa e viável, existem organizações sem fins lucrativos que têm como objetivo a inserção de pessoas com experiência de imigração e asilo, com visto de trabalho no mercado suíço. A Capacity Zurich, localizada em Zurique, é um exemplo e foca nesse público específico. Com o slogan "Apoiando o potencial humano", a organização auxilia estrangeiros que queiram começar um negócio ou estabelecer uma iniciativa cultural e social no país.

Oportunidade – Com o apoio de parceiros como UBS, Cantão de Zurique e Impact HUB, a Capacity Zurich abre as inscrições para o segundo ano do programa de mentoring, que vai de maio a novembro de 2017. Durante esse período, um time de especialistas irá guiar os futuros empresários, seja em encontros individualizados ou sessões de trabalho regulares. Além disso, esses imigrantes terão a oportunidade de participar de workshops conduzidos por especialistas de companhias suíças e eventos para expandir redes de contato.

A Capacity Zurich ofereceu atendimento a 11 imigrantes no ano de 2016. Desse total, três conseguiram abrir suas empresas. A história de sucesso da Organização, no entanto, não deve ser medida somente pelo êxito financeiro dos participantes. De acordo com a idealizadora da Organização, a britânica Emily Adams, muitas pessoas disseram que só o fato de terem ganhado a experiência e conhecimento com o programa já foi uma vitória considerável em suas vidas.

A ideia de iniciar o programa surgiu, há quase dois anos, após conversar com uma amiga psiquiatra que trabalha com imigrantes vítimas de tortura e guerra. Além disso, Emily, que é bióloga e tem doutorado em Geografia Humana, também carregava a frustração de saber que seu diploma e profissão não eram aceitos na Suíça.

"Se quisermos viver uma sociedade aberta a novas coisas, onde cada indivíduo possa alcançar seu potencial, e onde a diversidade seja vista como uma força, é preciso apoiarmos o encontro entre pessoas de diversas origens. O mais interessante no Capacity Zurich é que os suíços participam desse processo como treinadores", explica a fundadora. O objetivo da Organização é apoiar pessoas como refugiados e migrantes para que desenvolvam novos modelos de cooperação e interação, para que alcancem seu pleno potencial na sociedade suíça.

O prazo das inscrições se encerra no dia 17 de março. Veja mais detalhes no site: http://capacityzurich.ch/

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Imigrantes viram empresários para driblar o fechado mercado suíço

Se as empresas não me aceitam, eu crio a necessidade lançando o meu produto. Esse pensamento resume um perfil de pessoas que busca uma colocação profissional na Suíça: a de pessoas que emigraram.

Com permissão para trabalhar e muitas vezes qualificados, ficam presos no bloqueio do fechado mercado suíço. Abrir o próprio negócio pode ser a única opção para muitos deles diante dos inúmeros obstáculos que impedem a inserção no mundo corporativo. O empreendedorismo, dessa forma, apesar de ser uma chance de inserção ao mesmo tempo muito instigante e promissora, pode se tornar uma alternativa mais arriscada, por ser tocada por estrangeiros em terras parcialmente desconhecidas.

Na última década foram criadas cerca de 400 mil empresas na Suíça (algumas estatísticas). Cerca de 70 por cento desses negócios pertencem a suíços e 30% a estrangeiros, oriundos de diferentes países. De acordo com estudo preparado pela Crif para o jornal suíço Tages-Anzeiger, publicada em outubro de 2016, a estatística sugere que os estrangeiros teriam um perfil mais arrojado do que o povo local, o que não é surpresa, já que imigração denota risco e coragem para enfrentar novidade.

Empreendedorismo de mãos dadas com imigração – A pesquisa realizada em 2013 pelo Serviço de Informações Econômicas da Consultoria Bisnode D&B diz que 40% das empresas e 75% das startups de alta tecnologia na Suíça são fundadas por pessoas de outros países, número ainda maior que o estudo da Crif. O estudo confirma que os estrangeiros mostram uma grande abertura para fundar suas próprias empresas.

* Artigo do blog "Suíça de portas abertas"Link externo da jornalista Liliana Tinoco Baeckert.

Infelizmente não é exclusividade da Suíça o fato de os cidadãos de outras nacionalidades serem ignorados quanto ao reconhecimento da importância na geração de renda. Basta acompanhar a polêmica do presidente Donald Trump e demonstrações pela Europa sobre a contribuição dos imigrantes para com a prosperidade mundial, com a criação de postos de trabalho e com diversidade de ideias para países que precisam de novidades.

De acordo com Peter Drucker, autor do livro Inovação e Espírito Empreendedor (1987), esse perfil de pessoas sempre inova e a renovação constitui-se em instrumento especifico desse espírito, que tem a nova capacidade de criar riquezas. E existe algo mais ligado à reinvenção que a emigração?

Os pontos fortes em se abrir o próprio negócio são óbvios para qualquer um: geração de renda, de emprego para o indivíduo e para o meio onde vive, além da realização pessoal. Os pontos sensíveis estariam em detalhes como visão enviesada do mercado, enxergado com olhos da antiga cultura; no desconhecimento da língua, na falta de apoio e aconselhamento técnico e na reduzida rede de contatos. Dessa forma, vale a pena o preparo, porque há um enorme mercado esperando por novas ideias.

Visão cultural ampliada

Desconhecimento do mercado e visão enviesada da realidade cultural do país de acolhida devem ser evitados a todo custo. A treinadora intercultural e especialista em recolocação executiva internacional Anne Claude Lambelet explica que esse é um ponto suscetível importante, principalmente no caso de pessoas de outras nações. De acordo com Lambelet, muitos imigrantes avaliam o país de acolhida sob a ótica que trazem de suas nações. A consultora tem experiência de mais de 25 anos em ajudar estrangeiros a buscar emprego ou montar negócio, tem sua própria empresa da ACL consultoria e é presidente da Sociedade para Educação, Treinamento e Pesquisa Intercultural – SIETAR/Suíça, sigla em inglês para Society for Intercultural Education, Training and Research.

A consultora conta a experiência de uma cliente, que queria importar dos Estados Unidos para Genebra lâmpadas e decoração de natal que ela achava que não havia na Suíça. "Tentei convencê-la de que apesar de funcionar maravilhosamente na América, isso não iria vingar aqui. As pessoas iriam reclamar dos custos da decoração, repassados aos cidadãos em forma de imposto. A proposta não era ecológica, já que usava muita energia elétrica, um recurso limitado. Além disso, a cidade compraria uma vez, mas não renovaria a decoração anualmente, já que o consumismo não é um fator preponderante na Suíça", explica Anne-Claude, ao falar da perspectiva baseada somente na cultura de origem e a necessidade de ter o olhar de peixe, que é a capacidade de ver em 360 graus, sob todos os ângulos.

Dessa maneira, a especialista aconselha: contrate um coach, um especialista que possa guiar e ajudar na tomada de importantes decisões, faça um estudo detalhado do mercado, uma investigação dos concorrentes, dos hábitos de consumo, das oportunidades reais de nicho e, sobretudo, um plano de negócios, o conhecido "business plan".

Quando o dinheiro é curto mas o projeto interessante

Apoio técnico e aconselhamento custam caro. Mas não é por isso que o estrangeiro precisa desistir. Se a ideia é boa e viável, existem organizações sem fins lucrativos que têm como objetivo a inserção de pessoas com experiência de imigração e asilo, com visto de trabalho no mercado suíço. A Capacity Zurich, localizada em Zurique, é um exemplo e foca nesse público específico. Com o slogan "Apoiando o potencial humano", a organização auxilia estrangeiros que queiram começar um negócio ou estabelecer uma iniciativa cultural e social no país.

Oportunidade – Com o apoio de parceiros como UBS, Cantão de Zurique e Impact HUB, a Capacity Zurich abre as inscrições para o segundo ano do programa de mentoring, que vai de maio a novembro de 2017. Durante esse período, um time de especialistas irá guiar os futuros empresários, seja em encontros individualizados ou sessões de trabalho regulares. Além disso, esses imigrantes terão a oportunidade de participar de workshops conduzidos por especialistas de companhias suíças e eventos para expandir redes de contato.

A Capacity Zurich ofereceu atendimento a 11 imigrantes no ano de 2016. Desse total, três conseguiram abrir suas empresas. A história de sucesso da Organização, no entanto, não deve ser medida somente pelo êxito financeiro dos participantes. De acordo com a idealizadora da Organização, a britânica Emily Adams, muitas pessoas disseram que só o fato de terem ganhado a experiência e conhecimento com o programa já foi uma vitória considerável em suas vidas.

A ideia de iniciar o programa surgiu, há quase dois anos, após conversar com uma amiga psiquiatra que trabalha com imigrantes vítimas de tortura e guerra. Além disso, Emily, que é bióloga e tem doutorado em Geografia Humana, também carregava a frustração de saber que seu diploma e profissão não eram aceitos na Suíça.

"Se quisermos viver uma sociedade aberta a novas coisas, onde cada indivíduo possa alcançar seu potencial, e onde a diversidade seja vista como uma força, é preciso apoiarmos o encontro entre pessoas de diversas origens. O mais interessante no Capacity Zurich é que os suíços participam desse processo como treinadores", explica a fundadora. O objetivo da Organização é apoiar pessoas como refugiados e migrantes para que desenvolvam novos modelos de cooperação e interação, para que alcancem seu pleno potencial na sociedade suíça.

O prazo das inscrições se encerra no dia 17 de março. Veja mais detalhes no site: http://capacityzurich.ch/

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