O professor Carlos Ricardo Maneck Malfatti, do Departamento de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), conquistou o segundo lugar no 27º Congresso Nacional de Criminalística, realizado em São Luís, no Maranhão, pelo trabalho intitulado “O uso de novas tecnologias na tricologia forense: uma proposta de identificação por assinatura química e histológica”. A pesquisa premiada foi destaque na área de Medicina Legal, Odontologia, Antropologia e Patologia Forense, sendo elogiada pela inovação e rigor científico.
O evento, que é o mais tradicional da criminalística no Brasil e um dos mais relevantes da América Latina, trouxe como tema central a “Inovação e Integração das Ciências Forenses”. Sobre a premiação, Malfatti expressou a sua satisfação. “Receber esse prêmio é uma grande honra. Esse Congresso tem por tradição premiar os melhores trabalhos, que se destacam em inovação, clareza na apresentação das ideias, metodologia e rigor científico. E no nosso caso, esses resultados são fruto de pesquisas realizadas nas dependências da Unicentro, no Laboratório de Biotecnologia e Ciências Forenses (Biomed Forense)”, conta Malfatti, coordenador do laboratório.
A tricologia forense é a área da ciência forense que estuda os cabelos e pelos humanos para auxiliar em investigações criminais. Ela envolve a análise da estrutura, composição química e características físicas dos fios de cabelo, que podem ser coletados em cenas de crimes ou de vítimas.
A pesquisa de Malfatti e sua equipe traz inovações no campo da tricologia forense, que até então era limitada. A nova proposta utiliza inteligência artificial para análise microscópica de fios de cabelo, criando algoritmos capazes de estimar a identificação de indivíduos com maior precisão. “Além de traçar um perfil anatômico e morfológico do fio de cabelo, por meio de microscopia óptica, nós estamos utilizando de novas tecnologias, como a inteligência artificial, com possibilidade de gerar um algoritmo, que consiga uma assinatura histológica e capaz, logicamente se quantificada, de estimar o nível de confiabilidade em relação a essa identificação por características de cor, da cutícula, da medula, que são aspectos observados pela microscopia óptica”.
Ele explica que o método tradicional de análise capilar até então não permitia a identificação primária de suspeitos. “Apenas excluía suspeitos, mas não conseguia dar um ‘match’ biométrico ou de DNA, que ocorre por métodos de identificação primária. Após esse estudo piloto inicial, nós pretendemos identificar esse algoritmo, quantificar com capacidade de estimar de forma matemática a inclusão – não somente a exclusão – de suspeitos por meio deste método do fio de cabelo e protocolando uma nova forma de procedimento operacional a ser utilizado na rotina da perícia criminal”, detalhou.
O trabalho, que conta com a participação de alunos e de pesquisadores, é um exemplo de como a colaboração científica e o uso de novas tecnologias podem trazer avanços significativos para as ciências forenses. “Neste trabalho participam ativamente um aluno da Biologia em formação, no seu trabalho de conclusão de curso, o Mateus Giacomitti. Faz parte também desta pesquisa uma professora da Universidade Federal do Paraná, a professora Caroline Doca e o perito criminal Alexandre De Lara, autor desse trabalho também. Não poderíamos deixar de citar todos os órgãos de fomento que estão nos auxiliando como a Seti (Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná), Fundação Araucária, Napi Forense, CNPq, Capes e a própria universidade que nos fornece estrutura laboratorial”.
Quanto aos próximos passos da pesquisa, Malfatti explica que a equipe já está trabalhando para criar uma biblioteca de amostras de fios de cabelo da região, o que permitirá traçar perfis ambientais e individuais. “Os próximos passos são ampliar as possibilidades de uso dessa ferramenta e elaborarmos uma biblioteca para nossa região. Posteriormente, podemos usufruir de bibliotecas já cadastradas e armazenadas em centrais de custódia da própria polícia científica, não só do Paraná, mas de outros estados também. Nós temos a possibilidade de um novo protocolo e inclusão do fio de cabelo na relação de provas com capacidade de identificação primária e não apenas secundária ou terciária”.
A pesquisa abre portas para avanços significativos na área de Medicina Legal e outras ciências forenses no Brasil. “O fio de cabelo caminha para estar no mesmo ‘know-how’ de capacidade que hoje tem a prova por meio da digital, também do DNA e análise de arcada dentária”, concluiu Malfatti.
Por Giovani Ciquelero