Pesquisadores da Unicentro e Unesp desvendam efeitos de borda em vespas e abelhas

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Uma pesquisa inovadora conduzida em colaboração entre docentes e acadêmicos da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Rio Claro (SP), revelou importantes descobertas sobre os “efeitos de borda” em ecossistemas, com foco em vespas e abelhas. Este estudo pioneiro visa fornecer bases científicas para práticas agrícolas mais sustentáveis e eficazes.

O fenômeno dos “efeitos de borda” refere-se às mudanças que ocorrem nas comunidades de plantas e animais nas áreas de transição entre diferentes ecossistemas, como florestas e áreas agrícolas. Desde 2018, a equipe de pesquisadores, liderada pela professora Maria Luísa Tunes Buschini e composta por acadêmicos do Programa de Pós-Graduação em Biologia Evolutiva da Unicentro, egressos da Unicentro e que agora cursam doutorado na Unesp, além de pesquisadores e docentes da universidade paulista, realizou extensas observações e coletas de dados.

“A pesquisa visou entender como as mudanças nos ambientes, que são causadas pela ação humana, podem afetar a ocorrência de importantes espécies de vespas e abelhas solitárias. Essas espécies de animais são muito sensíveis a essas alterações da paisagem, principalmente quando ocorre a conversão de áreas naturais, tal como as florestas, em plantações e/ou pastagens. Nesse processo, o limite desses ambientes naturais, também chamado de borda, faz fronteira com locais alterados e isso pode afetar a distribuição e ocorrência das espécies”, explica Maria Luísa Tunes Buschini, docente do Departamento de Biologia da Unicentro e supervisora do estudo.

O estudo e resultados preliminares

Para a coordenadora do Laboratório de Biologia e Ecologia de Abelhas e Vespas da Unicentro, pesquisas na área são essenciais para entender o que pode influenciar na distribuição e ocorrências das espécies, assim como das funções que elas desempenham. “Como vespas e abelhas participam de importantes serviços ecossistêmicos direta e indiretamente, esses resultados podem nos ajudar a planejarmos melhor como organizar nossas paisagens, garantindo não só a presença das espécies, mas também de suas funções. Isso acarreta inúmeras consequências, não só para a conservação das espécies, mas também para uma maior produtividade e qualidade de alimentos de produtores rurais”, afirma Maria Luísa.

Os resultados preliminares indicam que as bordas dos ecossistemas exercem uma influência significativa sobre a distribuição e o comportamento de vespas e abelhas. “Descobrimos que a distância da fronteira entre ambientes naturais e antrópicos pode afetar a distribuição e ocorrência das espécies de vespas e abelhas solitárias. Por exemplo, observamos que as espécies de vespas que são caçadoras de lagartas ocorrem em maior quantidade quando mais próximo dessa borda entre ambientes. Por outro lado, as abelhas diminuem sua ocorrência quanto mais próximo desse limite e quanto mais para dentro de ambientes florestais, aparecendo em maior número em áreas abertas. Além do mais, quando olhamos apenas para as espécies de vespas que caçam baratas, a resposta foi oposta, ou seja, esses animais ocorrem em maior quantidade no centro de áreas florestais. Mesmo com essas diferentes respostas, um padrão muito interessante encontrado no estudo foi que todas as espécies precisam estar a pelo menos 100 metros de uma borda florestal para ocorrerem em maior quantidade e conseguirem desempenhar suas funções ecológicas”, conta a professora Maria Luisa.

Abelhas e vespas desempenham papéis vitais e entender seus padrões de movimento e habitat é importante para o planejamento dos recursos naturais. “Vespas e abelhas são animais essenciais para a manutenção não só da biodiversidade, mas também para a economia mundial. Esses animais desempenham o que chamamos de serviços ecossistêmicos, que são benefícios que os animais e ecossistemas desempenham para o bem-estar humano. Por exemplo, as vespas podem ser muito importantes no controle populacional de outras espécies de insetos, inclusive aquelas que são consideradas ‘pragas’ agrícolas. Já as abelhas são as principais polinizadoras das plantas com flores, sendo muito importante para a produção de comida mundial. Por isso, entender como esses animais podem ser afetados pelas mudanças nos ambientes pode ser essencial para um melhor planejamento de como a humanidade pode utilizar os recursos naturais e, ainda assim, manter o papel que as espécies desempenham no ecossistema”, disse Maria Luisa.

Próximos passos

A equipe que integra o estudo segue desenvolvendo pesquisas nesta e em outras áreas correlacionadas, fornecendo bases científicas e buscando contribuir para a sustentabilidade. “Agora que entendemos o efeito da distância da borda sobre esses animais, podemos nos aprofundar no efeito disso sobre a qualidade e produtividade das áreas rurais e, assim, ligar o conhecimento que está sendo gerado dentro da academia, com a necessidade de gerenciamento ambiental para a produção de comida. Muito trabalho ainda tem a ser feito, mas é assim que a ciência funciona, uma junção de vários conhecimentos que vão sendo acumulados ao longo do tempo até que tenhamos uma boa resposta que auxilie a formarmos uma sociedade mais sustentável para todos”, disse a docente Maria Luisa Tunes Buschini.

Por Giovani Ciquelero

Fotos: Laboratório de Biologia e Ecologia de Abelhas e Vespas da Unicentro



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