Versos sobre amor, saudade e liberdade. Mais uma vez, os presos da Cadeia Pública de Irati foram incentivados a traduzir os seus sentimentos em palavras por meio de um concurso literário. A iniciativa faz parte do projeto de extensão “Círculo de Leitura: dialogando a literatura no cárcere”, coordenado pela Seção de Relação Comunitária do Câmpus de Irati (Serecom/I) da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) e pelo Conselho da Comunidade da Comarca de Irati, com o apoio do Departamento de Polícia Penal do Estado do Paraná (Deppen).
Interrompido durante a pandemia de Covid-19, a competição foi retomada em 2023 e aguardada com muita expectativa para este ano. “A gente que tá aqui dentro sabe. Dá para ver no olhar [dos colegas] a ansiedade de chegar o dia da aula e, agora que tem a poesia, de chegar o final do ano. Para nós é muito gratificante”, conta O.F., um dos inscritos no concurso.
Nesta quinta-feira (12), os 31 privados de liberdade que escreveram poemas para esta edição receberam um certificado de participação e um kit com produtos doados por empresários e servidores da Unicentro.
Além da Unicentro e dos Conselhos da Comunidade de Irati e de Imbituva, a Federação dos Conselhos da Comunidade do Estado do Paraná (Feccompar) também participou do evento nesta quinta-feira (12). (Foto: Coorc)
Ainda pela universidade, uma banca formada por professores do Departamento de Letras (Delet/I) e da Pró-Reitoria de Ensino (Proen) escolheu os cinco melhores textos, divididos de acordo com as atividades educacionais de remição da pena realizadas pelo Conselho na unidade prisional.
A primeira categoria reuniu os escritos dos alunos da “Pedagogia da Inclusão: Letramento e Escrita”, que promove aulas semanais de alfabetização, enquanto a segunda concentrou o grupo da “Liberdade pela Leitura”, que produz resenhas sobre os livros lidos durante o ano.
A leitura dos textos premiados foi um momento de muita emoção para todos os envolvidos. “Quando eu entrei aqui, não sabia escrever nem meu nome”, lembra Z.S, segundo colocado na categoria “Letramento”.
“Claro que toda a remição é bem-vinda, porque um dia a menos pra quem tá aqui dentro é muito. Mas é importante também porque traz muito conhecimento para nós e esse aprendizado vale muito”, complementa O.F.
“Acho que o livro liberta, que a educação liberta. A gente vê que eles se transportam para fora desses muros aqui”, comenta Bruna Mendes, assistente social do Conselho da Comunidade de Irati.
Selo ODS
O projeto de literatura carcerária já recebeu os selos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Nações Unidas, pelo cumprimento de três deles: Educação de Qualidade; Redução das Desigualdades; e Paz, Justiça e Instituições Eficazes. “Isso contribui muito na formação e no futuro deles. Porque um dia eles sairão daqui, voltarão para a sociedade e eles terão que voltar com uma nova roupagem, com uma nova forma de pensar, com uma nova forma de agir”, pondera o agente universitário Nelson Susko, responsável pela Serecom.
Evandro Cesar Fernandes dos Anjos é gestor da Cadeia Pública e conta que os efeitos da iniciativa podem ser percebidos na própria rotina dos detentos. “Eles ficam calmos, eles ficam reflexivos. Ler é uma experiência legal para eles”, destaca.
“Nós somos presos, mas graças a Deus, nós queremos sair para a liberdade de corpo e espírito limpo”, deseja L.R.
Biblioteca Carcerária
Como mais um reforço à ação, durante o evento desta quinta-feira, o Conselho da Comunidade da Comarca de Imbituva fez a entrega simbólica dos livros arrecadados para a biblioteca carcerária que atende a unidade prisional iratiense. “É um projeto bastante interessante e como nós temos nossos apenados aqui em Irati também, nos sentimos na obrigação de compartilhar com eles esses livros”, pontua Dorval Aparecido dos Santos, presidente do Conselho de Imbituva.
Presidente do Conselho de Irati, Leonel Leandro da Silva celebra a atuação em conjunto em prol da população carcerária. “A gente necessita das parcerias para que o nosso trabalho com os encarcerados seja bem executado e colha frutos”, afirma.
Por Wyllian Correa
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