No último domingo (18), o longa-metragem “Até que a música pare” foi premiado no 52º Festival Internacional de Cinema de Gramado com dois “kikitos”. O filme da diretora Cristiane Oliveira levou os prêmios de Melhor Direção de Arte e o de Melhor Atriz, ambos na categoria de Longas Gaúchos, no mais tradicional festival de cinema brasileiro. A Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) teve uma participação especial no desenvolvimento da obra.
Boa parte dos diálogos do filme são em talian, língua de imigração que é fruto de uma mistura de variantes do italiano da região norte do país com o português brasileiro. Para auxiliar na revisão linguística do longa, a produção contou com a consultoria de Loremi Loregian-Penkal e Juvenal Dal Castel, professores do projeto de extensão Cucagna – Scola de Talian da Unicentro.
Como conta Juvenal, foram diversas reuniões virtuais junto com a diretora e parte do elenco para avaliar a pronúncia do talian. Segundo ele, o resultado é uma produção cinematográfica que valoriza o idioma, mas que também é enriquecida culturalmente pela língua que surgiu do encontro de imigrantes italianos com as terras brasileiras. “O nosso povo se sentirá representado na tela. Muitos verão a nona, o nono, o pai, a mãe, o zio, a zia, em um talian falado de forma impecável, provando que é possível padronizar a diversidade linguística sem prejudicar a comunicação”, afirma o professor, que também é presidente da Associação dos Difusores do Talian (Assodita).
“Até que a música pare” levou os prêmios de Melhor Atriz (Cibele Tedesco, na foto) e de Melhor Direção de Arte na categoria de Longas Gaúchos. (Foto: Acervo Pessoal)
Além da assessoria linguística, Juvenal contribuiu com a autoria de cinco músicas do filme, sendo três delas também interpretadas por ele.
Gravado e ambientado na serra gaúcha, o filme acompanha Chiara (Cibele Tedesco), a matriarca de uma família de descendentes italianos que, após o filho sair de casa, decide acompanhar o marido Alfredo (Hugo Lorensatti) em suas viagens como vendedor em botecos da região. Além da premiação em Gramado, a obra foi reconhecida internacionalmente no 39º Santa Barbara International Film Festival, nos Estados Unidos, e também levou o prêmio de Melhor Direção no 42º Bergamo Film Meeting, na Itália.
A atriz Cibele Tedesco conta que o apoio dos professores foi indispensável para viver a protagonista Chiara. “Foi fundamental o trabalho do Juvenal e da Loremi. A gente fez o estudo do roteiro, toda a preparação, primeiro em português e depois em talian. Fizemos on-line na época, pois a pandemia estava bem intensa. Então fizemos toda essa leitura do roteiro, intensificando palavras, frases, conforme a curva dramática desses textos”, relata.
Na visão de Juvenal, a obra fortalece a disseminação e a salvaguarda do talian, que chegou a ser proibido na década de 1940. “Após ganhar gramática, dicionários importantes, adentrar na academia e também conquistar a tela do cinema, o talian prova que nunca foi língua de gente ignorante e rústica. O filme demonstra toda a sua beleza e poder”, enfatiza.
Sobre o projeto de extensão
A Cucagna – Scola de Talian é desenvolvida pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), por meio do Centro de Línguas (CEL), em parceria com a Associação dos Difusores do Talian (Assodita). O curso promove aulas gratuitas e outras atividades com foco na promoção e preservação da língua de imigração.
Para este ano, as inscrições estão encerradas. Novas turmas devem começar no início de 2025. Para ser avisado sobre a abertura de vagas, basta se inscrever na lista de interessados disponível no site do projeto. Na página você também encontra mais detalhes sobre a iniciativa.
Por Paula Claro
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