Desde 1997 que Carlos Lopes importa vinhos portugueses para a Suíça, mas foi apenas há dois anos que começou a organizar visitas turísticas a Portugal para cidadãos suíços, centradas no enoturismo. Desde então foi o guia de vinte grupos e para o próximo ano já tem marcações para mais doze.
Encontro de produtores e suíços na Real Companhia Velha.
(swissinfo.ch)
swissinfo.ch acompanhou a visita de um desses grupos às caves da Real Companhia Velha, em Vila Nova de Gaia, no Norte de Portugal, onde os suíços puderam apreciar vinhos do Douro e do Porto, acompanhados por queijos, enchidos e bolinhos de bacalhau, entre outros petiscos.
Quinze suíços, guiados por dois portugueses, descobriram, durante uma semana, o Porto e a região do Douro numa viagem organizada pela empresa Sabores da Rolha, propriedade de Carlos Lopes e Mário Sousa. As caves do vinho do Porto foram só um dos pontos de uma agenda preenchida, com vários momentos altos, como um jantar vínico, um cruzeiro no Rio Douro e uma visita às quintas onde se produz o néctar mundialmente famoso.
“Não temos pacotes standard. É tudo muito personalizado e isso é o nosso trunfo”, frisa Carlos Lopes, que gosta de adaptar as viagens aos desejos dos clientes. A prová-lo está o facto de ele e o sócio terem começado por organizar visitas de enoturismo, mas já terem, entretanto, diversificado a oferta, de forma a abranger o BTT ou golfe. Os clientes-alvo “são pessoas que procuram algo diferente, que não vão aos catálogos à procura de soluções de férias”.
Muitos dos suíços que participam nestas viagens já são clientes dos vinhos que Lopes, imigrante na Confederação Helvética, lhes vende: “Há um interesse deles em conhecer o nosso país, porque temos um vinho muito bom. Além disso, existe uma empatia vendedor-fornecedor-cliente e eles confiam completamente em nós para uma viagem a Portugal. É assim que se tem desenvolvido o projecto. Aqueles que ainda não são nossos amigos passam a sê-lo no final da visita. Também aí somos diferentes dos outros”.
Encantados com o vinho do Porto
Simon Giese foi um dos suíços que participou na viagem organizada pela Sabores da Rolha. Já tinha estado em Portugal, mas aproveitou esta “boa oportunidade, para conhecer quintas interessantes e saber mais sobre o Porto, o vinho do Porto e a região”. E depois de ter passeado entre pipas, tonéis e garrafas de vinho do Porto cobertas de teias de aranha; ouvido as explicações do guia da Real Companhia Velha, traduzidas por Carlos Lopes; e provado vários tipos de vinhos do Porto, Simon já fala como um especialista e domina toda a terminologia: “Sei o que é um tawny, um ruby, um LBV [Late Bottled Vintage] e um vintage”.
O que mais gostou da visita? Nem se pergunta… “De provar o vinho do Porto!” Mas Simon ficou “bastante surpreendido com a quantidade de vinho que está armazenada” na Real Companhia Velha.
Chocada com a pobreza
Suzanne Bruegger também é fã do vinho do Porto. Tem-lo em casa, mas achou que estava na altura de conhecer a terra que o produz. Na noite anterior à visita às caves, durante um “formidável” jantar vínico, provou, mas não aprovou os vinhos tintos portugueses, que lhe pareceram “muito fortes”. Também estranhou as sobremesas, “demasiado doces”, mas adorou os queijos.
Quanto ao Porto, cidade, achou “muito bonito”, embora haja “muitas casas a precisarem de restauro”. Suzanne ficou também chocada com a pobreza: “Há muitas pessoas a pedirem esmola e isso faz-me mal… Não podemos dar a todos”.
De passatempo a caso sério
Até agora, a organização das viagens tem sido, segundo Mário Sousa, sócio da empresa Sabores da Rolha, um passatempo: “Vamos fazendo conforme a nossa disponibilidade, mas com as coisas a evoluírem assim temos de pensar seriamente noutros moldes. Teremos que alargar a equipa”.
Sousa também já pensa em alargar a oferta das visitas, para lá do enoturismo, golf ou BTT: “As pessoas ficaram agradadas com o que viram nessas três vertentes, mas nós temos muito mais para oferecer. Temos tanto e tanta riqueza para oferecer… Por exemplo, o mar é excelente. O surf está na moda. Podemos lá chegar um dia destes”.
Mas Carlos Lopes ressalva que haverá sempre “um fio condutor” no projecto: o vinho e a gastronomia, desde a tasca ao restaurante gourmet.