Apesar de não mostrar espanto com os resultados das eleições de domingo, a imprensa suíça questiona o rumo que o país deve tomar em questões sensíveis, como refugiados, imigrantes e a relação com a União Europeia.
O Partido do Povo Suíço (SVP, na sigla em alemão) fez jus ao nome e controla agora quase 30% do legislativo suíço.
(Reuters)
O avanço da direita não surpreendeu o lado de expressão alemã da Suíça, maioria no país. Assim, para o “Neue Zürcher Zeitung”, a vitória do SVP (Partido do Povo Suíço, na sigla em alemão) e do Partido Liberal Radical (PLR) não constitui nenhuma surpresa, mas representa um “retorno à normalidade”. Quando o povo pensa diferente da grande parte do Parlamento, uma correção é inelutável, diz o jornal de Zurique.
Na capital do país, o “Berner Zeitung” também não mostra surpresa com os resultados do domingo. As pesquisas de opinião realizadas antes das eleições já mostravam que os principais temas de preocupação do eleitorado suíço eram exatamente os mesmos do Partido do Povo Suíço: asilo, refugiados, imigração e União Europeia.
Nessa mesma direção, o “Aargauer Zeitung” considera que a vitória do SVP exprime uma das grandes preocupações dos cidadãos suíços, a questão dos refugiados. Mas o jornal se pergunta ainda se as receitas desse partido são mesmo eficazes.
País dividido
Após as eleições, o “Tages Anzeiger”, também de Zurique, observa um "país dividido". O novo centro, que ocupou um papel principal entre os dois blocos na legislatura, foi punido. "2015 marca o retorno do equilíbrio de forças centrífugas".
Apesar de uma "vitória modesta", o PBD, Partido Burguês Democrata, terá um papel-chave, considera por sua vez o “Der Bund”, outro jornal de Berna. No campo da burguesia, o PLR deverá reforçar o seu papel de liderança diante do gigante SVP.
Os editorialistas suíços alemães também mencionam o futuro da ministra das Finanças, Eveline Widmer-Schlumpf (PBD). Para o Der Bund, a renúncia de um terceiro mandato por parte da ministra, em favor do SVP, seria algo histórico.
O Berner Zeitung diz que, ao expressar o desejo de obter dois assentos no Conselho Federal (governo), o presidente do SVP, Toni Brunner, quer voltar para a "velha fórmula mágica de concordância aritmética", onde os 4 maiores partidos da Suíça se dividem as cadeiras do executivo.
"Direito legítimo"
Em 5 de dezembro, o Parlamento suíço vota a formação do executivo do país. Se o SVP – maior partido do país, mas com apenas uma cadeira no governo – apresentar um candidato válido, o Parlamento será obrigado a levar a sério o veredito do povo, enfatiza o Aargauer Zeitung.
Para o Neue Zürcher Zeitung, o resultado destas eleições deve facilitar o cumprimento "do direito legítimo do SVP a um segundo assento no governo".
Mesmo constato na imprensa do lado de língua francesa, que considera que a vitória da direita, e principalmente a do SVP, poderá repercutir na futura composição do Conselho Federal em dezembro.
A arrematada do SVP, que controla agora 65 das 200 cadeiras da Câmara, e o enfraquecimento do centro esboçam um legislativo mais polarizado e põem em risco a posição de Evelyne Widmer-Schlumpf no Conselho Federal.
Nos braços da direita
“A Suíça se joga aos braços da direita dura”, diz o jornal de esquerda “Le Courrier”. Em um período de incerteza, os suíços estão fazendo o que eles fazem de melhor: se embarricar. Para o diário de Genebra, "um desmantelamento político e social neoliberal acabou recebendo um sinal verde” no domingo.
"Não adianta torcer o nariz, a Suíça, pelo menos metade dos eleitores, votou para a direita, bem para a direita", observa o jornal La Côte, para o qual o SVP tem o mérito de passar uma mensagem inteligível para todos: a Suíça deve se proteger para garantir seus interesses.
Para o “Tribune de Genève”, o sucesso do SVP se baseou na atitude dos candidatos do partido com relação ao afluxo de migrantes sírios. "Em vez de berrar sobre a questão, como costumam fazer, eles ficaram quietos, mostrando até compaixão, sem abandonar seu discurso de fundo. Os suíços puderam, assim, votar no SVP despudoradamente para conter o aumento do risco", explica o jornal de Genebra.
Para o outro vencedor do dia, o PLR, seu retorno está ligado ao "pós-9 de fevereiro de 2014”, dizem alguns jornais, em referência ao voto dos suíços pela reintrodução de cotas para imigrantes da União Euroepia. "Perante a incerteza que esta situação provoca na economia, no emprego e nos acordos bilaterais com a União Europeia, o PLR foi capaz de encarnar uma via credível", diz o “24 Heures”.
Veja abaixo o gráfico que mostra as posições políticas dos sete principais partidos da Suíça, de acordo com smartvote.ch, plataforma de conselho aos eleitores.
swissinfo.ch