Atualidade suíça em 10 idiomas
pt
Busca na swissinfo
Menu
Busca
Utopia ou realismo?
Socialistas suíços querem reconciliar democracia e economia
Ultrapassar o capitalismo. Ideia fundadora da esquerda que o Partido Socialista Suíço quer atualizar, para a promoção de uma economia social, solidária e participativa. Para o economista Reiner Eichenberger, essa posição é simplesmente a de um partido sem ideias.
O recente “não” dos eleitores suíços à terceira reforma fiscal das empresas, julgada muito favorável às maiores empresas, deu asas ao Partido Socialista Suíço (PS), que a havia atacado através do referendo. Daí voltar a colocar na mesa a crítica do capitalismo.
Texto publicado no site #DearDemocracyLink externo, a plataforma sobre a democracia direta da swissinfo.ch.
O recente “não” dos eleitores suíços à terceira reforma fiscal das empresas, julgada muito favorável às maiores empresas, deu asas ao Partido Socialista Suíço (PS), que a havia atacado através do referendo. Daí voltar a colocar na mesa a crítica do capitalismo.
Um pouco antes neste ano, a ONG Oxfam esperou a abertura do Fórum de Davos para publicar seu relatório sobre a pobreza no mundo. Entre as conclusões (mesmo se a interpretação dos números é contestada) que na Suíça também, as desigualdades são extremas: 2% da população detém mais da metade das riquezas. Alguns dias depois a ONG católica Caritas adiantava o número de 530.000 pobresLink externo na Suíça e quase o mesmo número de pessoas em situação precária, geralmente apesar de um emprego.
Sem esperar esses dados, que variam pouco de um ano a outro, o PS havia adotado em seu congresso de dezembro uma posição incluída no programa. “Um futuro para todos, sem privilégios – preparar o advento de uma democracia econômica, no respeito da ecologia e da solidariedade “ Com o intento de orientar a política do partido para os próximos anos, o documento provoca vigorosos debates entre socialistas reformistas e camaradas mais radicais dentro do PS que o site.smartvote.ch note como um dos mais à esquerda da Europa.
O partido reafirma a vontade de “ultrapassar o capitalismo”. Introduzida em seu programa em 2010, sob a pressão de sua ala esquerda e seu movimento jovem. Apelo à revolução proletária? Convenhamos que o conceito é um pouco velho. A ideia é antes de tentar democratizar as empresas, de melhor distribuir o bolo e promover ao mesmo tempo boas condições de trabalho e um respeito maior do meio ambiente. Uma espécie de “luta de classes leve”, como a qualificou o jornal dominical “NZZ am Sonntag”.
“A ideia de ultrapassar o capitalismo não tem nada de novo. PS só insiste mais nisso agora. Isso mostra simplesmente que os socialistas não têm mais ideias construtivas”, opina Reiner Eichenberger, professor de economia na Universidade de Friburgo, conhecido por suas posições francamente liberais.
Outra economia
Deputada e vice-presidente do PS, Barbara Gysi admite que ultrapassar o capitalismo não é uma ideia nova. “Mas isso não quer dizer que ela seja má. Nós tentamos colaborar há 30 anos, mas não funciona. A economia e a sociedade se distanciam cada vez mais. O que queremos é tornar novamente a economia mais humana e para isso estamos convencidos que é preciso mais participação nas empresas”.
Para apoiar sua convicção, o PS lembra que esse tipo de empresa que ele preconiza já existe na Alemanha, por exemplo, ou na França, onde uma lei de incentivo favorece a economia social e solidária (ESS) “representando 10% do PIB nacional, emprega mais de um assalariado em dez e são grandes criadoras de emprego. Desde 2000, enquanto o emprego nas empresas clássicas cresceu de 4,5%, as empresas de ESS criaram 24% de novos empregos”, escreve o ministério francês da Economia.
Na Suíça também “uma outra economia existe”, como afirma em seu site a Câmara da Economia Social e Solidária de Genebra. Mas a participação nas empresas é pequena. É um curioso paradoxo no país da democracia direta que faz da participação política um princípio quase sagrado. “Isso tem certamente a ver com o fato de termos muitas pequenas e médias empresas (PME) com patrões um pouco à maneira antiga”, explica Barbara Gysi. “Quando falo com as pessoas, ouço frequentemente o sentimento que, dentro das empresas, sempre se pode discutir, mas não participar das decisões”, acrescenta.
“E é talvez justamente porque temos mecanismos muito avançados de participação política que não damos muita importância é participação econômica. Também não podemos esquecer que o setor econômico exerce um grande poder no plano político e na sociedade”, prossegue a vice-presidente do PS.
Lei do mercado vs. intervenção do Estado
A participação nas empresas, Reiner Eichenberger não é contra, por princípio. Mas, para ele, ele deve se desenvolver “onde realmente trouxer vantagens”. E já é o que ocorre: “pense nos escritórios de advocacia, ou nas empresas de conselho, onde os parceiros do mesmo peso dirigem as empresas e onde os jovens acabam se tornando sócios. Em um mercado livre, a direção participativa e a cooperação se desenvolvem onde tem sentido e não se desenvolve onde não há. Mas não devemos decidir de cima, como imaginam os socialistas”, afirma o economista.
“Até porque na ideia deles não se trata de dar um direito de participação aos colaboradores, mas aos sindicatos ou, melhor ainda, a representantes do PS”.
Isso parece não atingir Barbara Gysi, mesmo se seu partido é suficientemente realista para saber que a participação não se decreta e que toda intervenção nesse sentido em um Parlamento dominado pela direita tem poucas chances de reunir uma maioria. O que visam os socialistas são também ações “de baixo para cima”: reforçar a participação onde ela já existe, em colaboração com organizações parceiras como os sindicatos. No plano político, toda ação tendo uma chance de dar certo, ou simplesmente suscitar o debate, será tentada. Isso no nível parlamentar e da democracia direta, cujos instrumentos são disponíveis em três níveis: federal, cantonal e municipal.
O grupo de trabalho que elaborou essa tomada de posição se reunirá regulamente para fazer um balanço e a vice-presidente do PS reitera a promessa de seu partido: “a democratização da economia será para nós um tema prioritário nos próximos anos”.
Adaptação: Claudinê Gonçalves,
swissinfo.ch
Escreva o primeiro comentário a este artigo:
Escreva um comentário…
Mais…
Menos…
Direitos Autorais
Todos os direitos reservados. O conteúdo do site da swissinfo.ch é protegido por direitos autorais. Ele é destinado apenas para uso privado. Qualquer outro uso do conteúdo do site além do uso acima estipulado, especialmente no que diz respeito à distribuição, modificação, transmissão, armazenagem e cópia, requer a autorização prévia por escrito da swissinfo.ch. Caso você esteja interessado em algum desses tipos de uso do conteúdo do site, entre em contato conosco através do endereço contact@swissinfo.ch.
No que diz respeito ao uso para fins privados, só é permitido o uso de hyperlink para um conteúdo específico e para colocá-lo no seu próprio site ou em um site de terceiros. O conteúdo do site da swissinfo.ch só poderá ser incorporado em um ambiente livre de publicidade sem quaisquer modificações. Especificamente aplicável a todos os softwares, pastas, dados e seus respectivos conteúdos disponibilizados para download no site da swissinfo.ch, uma licença básica, não exclusiva e não transferível é concedida de forma restrita a um único download e gravação de tais dados em dispositivos privados. Todos os outros direitos permanecem sendo de propriedade da swissinfo.ch. Em especial, proíbe-se qualquer venda ou uso comercial desses dados.
Reutilizar artigo
Socialistas suíços querem reconciliar democracia e economia
Marc-André Miserez
20. Março 2017 – 11:00
Ultrapassar o capitalismo. Ideia fundadora da esquerda que o Partido Socialista Suíço quer atualizar, para a promoção de uma economia social, solidária e participativa. Para o economista Reiner Eichenberger, essa posição é simplesmente a de um partido sem ideias.
O recente “não” dos eleitores suíços à terceira reforma fiscal das empresas, julgada muito favorável às maiores empresas, deu asas ao Partido Socialista Suíço (PS), que a havia atacado através do referendo. Daí voltar a colocar na mesa a crítica do capitalismo.
Texto publicado no site #DearDemocracy, a plataforma sobre a democracia direta da swissinfo.ch.
O recente “não” dos eleitores suíços à terceira reforma fiscal das empresas, julgada muito favorável às maiores empresas, deu asas ao Partido Socialista Suíço (PS), que a havia atacado através do referendo. Daí voltar a colocar na mesa a crítica do capitalismo.
Um pouco antes neste ano, a ONG Oxfam esperou a abertura do Fórum de Davos para publicar seu relatório sobre a pobreza no mundo. Entre as conclusões (mesmo se a interpretação dos números é contestada) que na Suíça também, as desigualdades são extremas: 2% da população detém mais da metade das riquezas. Alguns dias depois a ONG católica Caritas adiantava o número de 530.000 pobres na Suíça e quase o mesmo número de pessoas em situação precária, geralmente apesar de um emprego.
Sem esperar esses dados, que variam pouco de um ano a outro, o PS havia adotado em seu congresso de dezembro uma posição incluída no programa. “Um futuro para todos, sem privilégios – preparar o advento de uma democracia econômica, no respeito da ecologia e da solidariedade “ Com o intento de orientar a política do partido para os próximos anos, o documento provoca vigorosos debates entre socialistas reformistas e camaradas mais radicais dentro do PS que o site.smartvote.ch note como um dos mais à esquerda da Europa.
O partido reafirma a vontade de “ultrapassar o capitalismo”. Introduzida em seu programa em 2010, sob a pressão de sua ala esquerda e seu movimento jovem. Apelo à revolução proletária? Convenhamos que o conceito é um pouco velho. A ideia é antes de tentar democratizar as empresas, de melhor distribuir o bolo e promover ao mesmo tempo boas condições de trabalho e um respeito maior do meio ambiente. Uma espécie de “luta de classes leve”, como a qualificou o jornal dominical “NZZ am Sonntag”.
“A ideia de ultrapassar o capitalismo não tem nada de novo. PS só insiste mais nisso agora. Isso mostra simplesmente que os socialistas não têm mais ideias construtivas”, opina Reiner Eichenberger, professor de economia na Universidade de Friburgo, conhecido por suas posições francamente liberais.
Outra economia
Deputada e vice-presidente do PS, Barbara Gysi admite que ultrapassar o capitalismo não é uma ideia nova. “Mas isso não quer dizer que ela seja má. Nós tentamos colaborar há 30 anos, mas não funciona. A economia e a sociedade se distanciam cada vez mais. O que queremos é tornar novamente a economia mais humana e para isso estamos convencidos que é preciso mais participação nas empresas”.
Para apoiar sua convicção, o PS lembra que esse tipo de empresa que ele preconiza já existe na Alemanha, por exemplo, ou na França, onde uma lei de incentivo favorece a economia social e solidária (ESS) “representando 10% do PIB nacional, emprega mais de um assalariado em dez e são grandes criadoras de emprego. Desde 2000, enquanto o emprego nas empresas clássicas cresceu de 4,5%, as empresas de ESS criaram 24% de novos empregos”, escreve o ministério francês da Economia.
Na Suíça também “uma outra economia existe”, como afirma em seu site a Câmara da Economia Social e Solidária de Genebra. Mas a participação nas empresas é pequena. É um curioso paradoxo no país da democracia direta que faz da participação política um princípio quase sagrado. “Isso tem certamente a ver com o fato de termos muitas pequenas e médias empresas (PME) com patrões um pouco à maneira antiga”, explica Barbara Gysi. “Quando falo com as pessoas, ouço frequentemente o sentimento que, dentro das empresas, sempre se pode discutir, mas não participar das decisões”, acrescenta.
“E é talvez justamente porque temos mecanismos muito avançados de participação política que não damos muita importância é participação econômica. Também não podemos esquecer que o setor econômico exerce um grande poder no plano político e na sociedade”, prossegue a vice-presidente do PS.
Lei do mercado vs. intervenção do Estado
A participação nas empresas, Reiner Eichenberger não é contra, por princípio. Mas, para ele, ele deve se desenvolver “onde realmente trouxer vantagens”. E já é o que ocorre: “pense nos escritórios de advocacia, ou nas empresas de conselho, onde os parceiros do mesmo peso dirigem as empresas e onde os jovens acabam se tornando sócios. Em um mercado livre, a direção participativa e a cooperação se desenvolvem onde tem sentido e não se desenvolve onde não há. Mas não devemos decidir de cima, como imaginam os socialistas”, afirma o economista.
“Até porque na ideia deles não se trata de dar um direito de participação aos colaboradores, mas aos sindicatos ou, melhor ainda, a representantes do PS”.
Isso parece não atingir Barbara Gysi, mesmo se seu partido é suficientemente realista para saber que a participação não se decreta e que toda intervenção nesse sentido em um Parlamento dominado pela direita tem poucas chances de reunir uma maioria. O que visam os socialistas são também ações “de baixo para cima”: reforçar a participação onde ela já existe, em colaboração com organizações parceiras como os sindicatos. No plano político, toda ação tendo uma chance de dar certo, ou simplesmente suscitar o debate, será tentada. Isso no nível parlamentar e da democracia direta, cujos instrumentos são disponíveis em três níveis: federal, cantonal e municipal.
O grupo de trabalho que elaborou essa tomada de posição se reunirá regulamente para fazer um balanço e a vice-presidente do PS reitera a promessa de seu partido: “a democratização da economia será para nós um tema prioritário nos próximos anos”.
×
Destaque
O lugar para se estar
Suíça classificada como o melhor país do mundo
Dilma Roussef em Genebra
Ex-presidente vê riscos para a candidatura de Lula em 2018
Em causa própria
Um aplicativo no Android e Apple Store para se integrar …
especiais
Suíça de portas abertas
especiais
Guia da Suíça
especiais
O túnel do São Gotardo
Barômetro da Preocupação
Imigração atormenta suíços
especiais
Refugiados
Fonte: Swiss Info