Uma exposição sobre um símbolo histórico e religioso da Suíça já atraiu este ano a atenção de milhares de pessoas em cidades brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro e Nova Friburgo, e se tornou um sucesso de público no país que tem a maior população católica do mundo.
Cerimônia de juramento dos novos guardas suíços no Vaticano, em maio de 2015.
(Keystone)
Até o dia 26 de outubro, a exposição “Guarda Suíça no Vaticano” pode ser vista na Catedral Metropolitana de São Sebastião, que é o segundo monumento mais visitado da cidade do Rio de Janeiro, atrás somente do Cristo Redentor: “É uma oportunidade de visita de milhares de pessoas todos os dias. Passam por aqui todas as nacionalidades”, comemora o cardeal arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta.
Ainda Belo Horizonte e Brasília
Vaticano
Como fazer a armadura da Guarda Suíça Pontifícia
Com 25 peças, entre fardas, elmos, armas, quadros e painéis, o acervo conta ao público brasileiro a história da guarda privada criada em 1503 e que passou a servir ao Vaticano três anos depois, após um pedido do Papa Júlio II atendido por jovens suíços católicos. A trajetória da exposição pelo Brasil começou em junho, na cidade de São Paulo, onde ficou por dois meses no Museu de Arte Sacra. No final de julho a exposição seguiu para Nova Friburgo (RJ), lá permanecendo por todo o mês de agosto no Teatro Municipal como parte das comemorações pela data nacional suíça na cidade que foi fundada por imigrantes oriundos da Suíça. Após o fim da temporada carioca, a exposição seguirá para Brasília e Belo Horizonte, em locais ainda a serem confirmados.
Os integrantes da Guarda Suíça já haviam chamado a atenção dos brasileiros durante a viagem do Papa Francisco ao Brasil, realizada em 2013. Da curiosidade manifestada pelas pessoas nasceu a ideia da exposição, que conta a história da Guarda Suíça para além dos aspectos folclóricos. Para oferecer aos visitantes uma visão abrangente sobre o tema, aos sábados há também uma palestra da historiadora Tamara Quírico, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que fala sobre “Vaticano, Guarda Suíça e Arte”.
A Arquidiocese do Rio pretende sensibilizar seus fiéis, sobretudo os mais jovens, com o exemplo de entrega à fé católica manifestado pela Guarda Suíça: “Mais do que a beleza do seu fardamento, das suas vestimentas, a Guarda Suíça nos traz o exemplo de jovens que dedicam suas vidas a serviço da Igreja. São pessoas que passam boa parte de sua juventude no Vaticano. Nossos jovens poderão ver, além de toda essa tradição que liga a Suíça à Sé de Pedro, a cultura e a vida da Suíça. Que essa exposição possa auxiliar na fraternidade entre os dois países”, diz Dom Orani.
A iniciativa faz parte da extensa agenda de eventos programada pela Presença Suíça no Brasil desde a Copa do Mundo de 2014. Para Claudio Baumann, que é assistente de projetos do Consulado-Geral da Suíça no Rio e responsável pela organização da exposição, outro aspecto simbólico importante da Guarda Suíça é revelar ao público brasileiro uma Suíça que alia tradição e modernidade: “Isso pode ser medido pela diferença entre o fardamento tradicional e cheio de cores, que você só vai ver no Vaticano mesmo, e o terno ao estilo dos agentes secretos que é usado no dia-a-dia da proteção ao Papa. A Guarda Suíça, ao longo desses cinco séculos, teve que se adaptar à modernidade tecnológica”, diz.
Essa dedicação à modernidade e à inovação, ressalta Baumann, existe desde o princípio da história da Guarda Suíça, e tem como maior símbolo a arma conhecida como alabarda, inventada pelos suíços para defender o Papa e o Vaticano: “Era uma arma de muita polivalência, pode se dizer que é a avó do canivete suíço. Há 500 anos, era um grande trunfo, assim como são hoje em dia os computadores. O papel da Guarda Suíça é também muito ligado à evolução tecnológica”, diz.
Bispo suíço-brasileiro
Durante a cerimônia de abertura da exposição, Dom Orani prestou homenagem à Suíça: “Trazer esta exposição para a Catedral do Rio de Janeiro é uma oportunidade para, de um lado, conhecermos melhor esta forte ligação de mais de 500 anos entre a Suíça e a Igreja Católica, através da Guarda Suíça, que tem a missão de proteger o Santo Padre. De outro, para conhecermos melhor uma nação que, embora pequena, tem uma importância grande no cenário mundial por causa de sua neutralidade e responsabilidade”, disse o cardeal arcebispo.
Uma presença muito festejada na abertura da exposição foi o bispo suíço, radicado no Brasil, Dom Karl Josef Romer, qualificado pelos presentes como o maior representante da ligação católica entre os dois países: “Para mim, esta exposição sobre a Guarda Suíça é uma alegria dupla. Este evento me emociona. Tenho 50 anos de vida no Brasil, primeiro na Bahia, depois no Rio de Janeiro. Fui o primeiro bispo ordenado aqui na Catedral de São Sebastião, pelo então cardeal Dom Eugênio Salles”, lembrou.
Amor maior
Recentemente, o Papa Francisco falou sobre a importância da Guarda Suíça para o Vaticano. Em maio, durante a cerimônia de juramento dos novos soldados que ingressaram na corporação em 2015, o Sumo Pontífice afirmou ter pela Guarda Suíça “uma amizade particular, baseada no amor de Cristo”. Na ocasião, Francisco também se dirigiu aos jovens católicos de todo o mundo: “Um soldado de Cristo participa da vida do seu Senhor. Este é um chamado para vocês também: assumir as preocupações de Cristo, ser companheiro dele”.
Se dirigindo aos soldados, o Papa falou sobre “a importância da oração pessoal, do rosário e do serviço aos pobres, doentes e necessitados”. Por fim, Francisco recordou que os guardas suíços “são um manifesto da Santa Sé que devem testemunhar aos peregrinos o amor maior que surge da amizade com Cristo, mediante o seu serviço generoso, profissional e gentil”.
swissinfo.ch