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20 anos de investimento responsável
Ethos, a fundação suíça que quer moralizar o capitalismo

Por Marc-André Miserez

Há 20 anos, a Fundação Ethos apoia o investimento social e ecologicamente responsável. Ela intervém também diretamente na marcha das empresas para lembra-las das boas práticas. Mas ela está longe de terminar seus combates, como disse no início de fevereiro em Berna, capital suíça.

Extração de bauxita na Guinée. Como ocorre geralmente, a riqueza do subsolo beneficia muito pouco a população do país, quando não a prejudica. Ora, algumas das gigantes do setor mineiro são domiciliadas na Suíça. Ethos quer lembrar suas responsabilidades.

Extração de bauxita na Guinée. Como ocorre geralmente, a riqueza do subsolo beneficia muito pouco a população do país, quando não a prejudica. Ora, algumas das gigantes do setor mineiro são domiciliadas na Suíça. Ethos quer lembrar suas responsabilidades.

(AFP)

“Os meios das finanças de Zurique nos trataram muito tempo de vermelhos” diverte.se o genebrino Dominique Biedermann ao celebrar o vigésimo aniversário da fundação que ele preside atualmente, depois de a ter lançado e dirigido durante 18 anos. A anedota foi contada no discurso aos 250 convidados reunidos no Hotel Bellevue, um cinco estrelas, que basta para ver que Ethosexternal link não é uma perigosa célula revolucionária.

Na origem, ela é uma emanação de duas caixas de pensão (organismos de direito privado que administra boa parte do sistema suíço de aposentadorias), desejosas de não investir o dinheiro de seus segurados de qualquer maneira e em qualquer lugar. E como investir nas grandes empresas significa ser acionista, a fundação logo se habitua a fazer perguntas que incomodam os executivos.

Em 2005, durante a assembleia da gigante Nestlé, Ethos se opõe a que o mesmo homem ocupe ao mesmo tempo a presidência e o conselho de administração. Apoiada por mais um terço dos acionistas, a resolução provoca uma revisão dos estatutos do grupo e encerra essa acumulação de cargos na direção.

Hoje número em seu nicho, Ethos representa 223 caixas de pensão que geram juntas mais de um-quarto dos 800 bilhões de francos suíços do chamado segundo pilar da aposentadoria. Por ocasião de seu vigésimo aniversário, ela acaba de lançar seu próprio índice da bolsa, que pondera as empresas cotadas, segundo critérios de boa governança. Dentro de algumas semanas, a fundação até aberta somente às caixas de pensão, acolherá seus primeiros membros privados.

Pilhagem Norte-Sul

Convidada de honra para o aniversário de Ethos, a ministra da Justiça e Polícia Simonetta Sommaruga elogiou sua ação, mesmo se muito resta a fazer em matéria de responsabilidade social e ambiental das empresas: “70% dos pobres do mundo vivem em países que se vêm espoliados de suas matérias primas”, lembrou a ministra socialista. Ora, a Suíça é o país de domicílio para alguns dos gigantesexternal link do setor, com altos lucros e práticas frequentemente criticadas. “Por trás do sucesso pode se esconder um abismo”, lembrou Sommaruga, evocando “as crianças que trabalham em condições próximas da escravidão e os solos envenenados” como ela pode ver – e é apenas um exemplo – quando visitou as explorações de bauxita na Guiné. E afirmou sob aplausos, que “a renda não pode excluir os critérios étnicos”.

"Por trás do sucesso pode se esconder o abismo" lembrou a ministra da Justiça e Polícia, Simonetta Sommaruga.

"Por trás do sucesso pode se esconder o abismo" lembrou a ministra da Justiça e Polícia, Simonetta Sommaruga.

(Keystone)

O assunto interpela evidentemente a Ethos. A fundação apoia a iniciativa popular “Por multinacionais responsáveisexternal link”, que obteve recentemente 120'000 assinaturas e pretende inscrever na Constituição federal a obrigação para as empresas estabelecidas na Suíça de respeitar os direitos humanos e o meio ambiente, igualmente em suas atividades no estrangeiro.

Se o governo suíço (de coalisão e dominado pela direita) decidiu recomendar a rejeição dessa inciativa, a ministra da Justiça e Polícia lembrou que o problema que ela destaca “é bem real”. Inclusive em temas de sua própria competência, inclui a migração. “Quando se cresce em um país que não oferece nenhuma perspectiva de vida, o exílio é às vezes a única escolha possível. Nesse sentido, o direito das empresas suíças tem algo a ver com as causas da migração”, resumiu Simonetta Somammaruga.

“Construir o mundo de amanhã

Em 20 anos, Ethos pode se orgulhar de belos sucessos. Com uma fundação mais forte, Dominique Biedermann afirma hoje que pouco a pouco nesses anos todos “os investidores se tornaram muito mais conscientes da importância das questões ambientais, sociais e de governança”. Em todo caso, a maioria dos investidores institucionais. Quanto aos outros, veremos quantos entrarão na Ethos quando de sua abertura aos privados.

Enquanto isso, a fundação publica uma brochura para lembrar os oito princípios que guiam sua ação. Aderir à Ethos é se engajar a se mostrar independente, profissional e transparente, excluir de sua carteira as empresas cujos produtos ou comportamento são incompatíveis com os valores definidos e avaliar as sociedades nas quais se coloca o dinheiro segundo os critérios ambientais, sociais e de governança, com destaque particular nas medidas de proteção ao clima.Mas não é só isso, o membro de Ethos deve ainda exercer sistematicamente seus direitos de voto de acionista e, portanto, participar das assembleias, fazer perguntas, dialogar com direção, apresentar resoluções juntamente com outros acionistas. Se o diálogo é impossível, Ethos recomenda entrar na justiça.

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Adaptação: Claudinê Gonçalves,
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Ethos, a fundação suíça que quer moralizar o capitalismo
Marc-André Miserez
26. Fevereiro 2017 – 11:00

Há 20 anos, a Fundação Ethos apoia o investimento social e ecologicamente responsável. Ela intervém também diretamente na marcha das empresas para lembra-las das boas práticas. Mas ela está longe de terminar seus combates, como disse no início de fevereiro em Berna, capital suíça.

“Os meios das finanças de Zurique nos trataram muito tempo de vermelhos” diverte.se o genebrino Dominique Biedermann ao celebrar o vigésimo aniversário da fundação que ele preside atualmente, depois de a ter lançado e dirigido durante 18 anos. A anedota foi contada no discurso aos 250 convidados reunidos no Hotel Bellevue, um cinco estrelas, que basta para ver que Ethos não é uma perigosa célula revolucionária.

Na origem, ela é uma emanação de duas caixas de pensão (organismos de direito privado que administra boa parte do sistema suíço de aposentadorias), desejosas de não investir o dinheiro de seus segurados de qualquer maneira e em qualquer lugar. E como investir nas grandes empresas significa ser acionista, a fundação logo se habitua a fazer perguntas que incomodam os executivos.

Em 2005, durante a assembleia da gigante Nestlé, Ethos se opõe a que o mesmo homem ocupe ao mesmo tempo a presidência e o conselho de administração. Apoiada por mais um terço dos acionistas, a resolução provoca uma revisão dos estatutos do grupo e encerra essa acumulação de cargos na direção.

Hoje número em seu nicho, Ethos representa 223 caixas de pensão que geram juntas mais de um-quarto dos 800 bilhões de francos suíços do chamado segundo pilar da aposentadoria. Por ocasião de seu vigésimo aniversário, ela acaba de lançar seu próprio índice da bolsa, que pondera as empresas cotadas, segundo critérios de boa governança. Dentro de algumas semanas, a fundação até aberta somente às caixas de pensão, acolherá seus primeiros membros privados.

Pilhagem Norte-Sul

Convidada de honra para o aniversário de Ethos, a ministra da Justiça e Polícia Simonetta Sommaruga elogiou sua ação, mesmo se muito resta a fazer em matéria de responsabilidade social e ambiental das empresas: “70% dos pobres do mundo vivem em países que se vêm espoliados de suas matérias primas”, lembrou a ministra socialista. Ora, a Suíça é o país de domicílio para alguns dos gigantes do setor, com altos lucros e práticas frequentemente criticadas. “Por trás do sucesso pode se esconder um abismo”, lembrou Sommaruga, evocando “as crianças que trabalham em condições próximas da escravidão e os solos envenenados” como ela pode ver – e é apenas um exemplo – quando visitou as explorações de bauxita na Guiné. E afirmou sob aplausos, que “a renda não pode excluir os critérios étnicos”.

O assunto interpela evidentemente a Ethos. A fundação apoia a iniciativa popular “Por multinacionais responsáveis”, que obteve recentemente 120'000 assinaturas e pretende inscrever na Constituição federal a obrigação para as empresas estabelecidas na Suíça de respeitar os direitos humanos e o meio ambiente, igualmente em suas atividades no estrangeiro.

Se o governo suíço (de coalisão e dominado pela direita) decidiu recomendar a rejeição dessa inciativa, a ministra da Justiça e Polícia lembrou que o problema que ela destaca “é bem real”. Inclusive em temas de sua própria competência, inclui a migração. “Quando se cresce em um país que não oferece nenhuma perspectiva de vida, o exílio é às vezes a única escolha possível. Nesse sentido, o direito das empresas suíças tem algo a ver com as causas da migração”, resumiu Simonetta Somammaruga.

“Construir o mundo de amanhã”

Em 20 anos, Ethos pode se orgulhar de belos sucessos. Com uma fundação mais forte, Dominique Biedermann afirma hoje que pouco a pouco nesses anos todos “os investidores se tornaram muito mais conscientes da importância das questões ambientais, sociais e de governança”. Em todo caso, a maioria dos investidores institucionais. Quanto aos outros, veremos quantos entrarão na Ethos quando de sua abertura aos privados.

Enquanto isso, a fundação publica uma brochura para lembrar os oito princípios que guiam sua ação. Aderir à Ethos é se engajar a se mostrar independente, profissional e transparente, excluir de sua carteira as empresas cujos produtos ou comportamento são incompatíveis com os valores definidos e avaliar as sociedades nas quais se coloca o dinheiro segundo os critérios ambientais, sociais e de governança, com destaque particular nas medidas de proteção ao clima.Mas não é só isso, o membro de Ethos deve ainda exercer sistematicamente seus direitos de voto de acionista e, portanto, participar das assembleias, fazer perguntas, dialogar com direção, apresentar resoluções juntamente com outros acionistas. Se o diálogo é impossível, Ethos recomenda entrar na justiça.
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