Após a euforia e os discursos que comemoraram o acordo climático de Paris como um "passo histórico", resta a parte mais difícil: concretizar os ambiciosos compromissos assumidos por 195 países. Apesar da enormidade da tarefa, a imprensa suíça é bastante otimista: a luta contra a mudança climática poderia ser uma oportunidade para a economia.
Um momento tingido pela emoção: Laurent Fabius, presidente da COP21, anuncia que um acordo foi encontrado para lutar contra as mudanças climáticas após duas semanas de intenso debate.
(Keystone)
"Será um acontecimento que entrará nos livros de história ou só a continuação de uma política climática hipócrita praticada durante um quarto de século?" Como a maioria dos jornais suíços que comentam nesta segunda-feira o Acordo de Paris sobre o clima, O “Neue Zürcher Zeitung” (NZZ) fica entre euforia e cautela diante das metas ambiciosas expressas pela comunidade internacional.
O “Le Temps” prefere ficar do lado otimista: "Quase 200 países que representam a grande maioria das emissões globais de CO2 deixaram de lado suas diferenças – ou pelo menos parte delas – para participar juntos na batalha do clima. (…) Por isso, é uma boa razão para acolher a ambição do acordo de Paris."
O desafio agora é transformar a análise e ir muito além do que tem sido feito até agora, acredita o jornal da Suíça de língua francesa. "Os combustíveis fósseis, responsáveis por três quartos das emissões de gases de efeito estufa relacionados com a atividade humana não podem mais ser parte do nosso futuro energético".
Vários fatores, segundo o Le Temps, sugerem que o mundo está no caminho da economia de baixo carbono. "O custo da energia solar e eólica caiu acentuadamente. Parte do setor financeiro não investe mais seus ativos nos combustíveis fósseis, considerados agora de alto risco. Tragicamente, a China se confronta com níveis tão altos de poluição que não tem outra escolha senão agir."
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Emissões de carbono
Quatro gráficos para compreender os debates na COP21
Por Duc-Quang Nguyen, John Heilprin
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Próximo teste em 2016
Para o “Tribune de Genève”, o resultado das negociações de Paris é francamente "incrível". O que inspira uma certa vigilância nos olhos do colunista do principal jornal de Genebra. "A dinâmica criada pela diplomacia francesa durante a preparação ajudou a caminhar juntos mastodontes como EUA, China, África do Sul, Índia … A sinceridade deles, duramente atingidos pelos efeitos do aquecimento global ou da poluição, não é de se duvidar, por enquanto. Mas vale a pena perguntar se os países satélites acharam bom aprovar o acordo no sábado à noite enquanto se preparam para pô-lo em causa durante a fase de validação a nível nacional. Será particularmente interessante, em primeiro lugar, como os países produtores de petróleo irão respeitar os compromissos assumidos em Paris no dia 12 de dezembro de 2015”.
O “La Liberté” também comemora com o "rumo" dado pela COP21, salientando a falta de meios para atingir os objetivos definidos no texto de 31 páginas aprovado em Le Bourget. "Se com este acordo o planeta respira um pouco melhor, ele não parou de girar depois de sábado. Ainda menos de queimar. Os governos, esses ‘Jedis’ responsáveis em preservar a ordem climática mundial, devem agir. O teste terá lugar na primavera de 2016, no início do processo de ratificação do texto pelos parlamentos nacionais", diz o jornal do cantão de Friburgo.
Mesmo que o mundo não esteja salvo e que o caminho que conduz à saída dos combustíveis fósseis seja longo e tedioso, o “Blick” fala de "sinal dado a todos que consideravam a proteção do clima uma área reservada aos ecologistas românticos". Quem ignorar este sinal pode ser alegremente ignorado nas futuras negociações sobre o clima, diz o tabloide de língua alemã. "Por esta razão, podemos nos alegrar com esta data histórica do 12/12/2015."
Milagre ou desastre?
No mesmo tom, o “Aargauer Zeitung” observa que é certamente tentador usar superlativos, mas que olhando mais de perto "as medidas tomadas são apenas a base para alcançar os objetivos". No entanto, segundo o jornal do cantão da Argóvia, a euforia manifestada reflete o alívio da comunidade internacional, "que apesar dos interesses divergentes, está pronta para reconhecer o problema do aquecimento global".
Mais crítico, o “Le Courrier” endossa a fórmula adotada pelo The Guardian para resumir o que acha do texto aprovado na noite de sábado em Paris no final da 21ª Conferência do Clima da ONU. "Em comparação com o que [o acordo] poderia ter sido, é um milagre. Comparado com o que deveria ter sido, é um desastre". O jornal esquerdista publicado em Genebra se mostra cético em relação à agenda e denuncia a falta de voluntarismo com a energia renovável.
Além disso, o Courrier acredita que o acordo "permanece evasivo sobre a forma de atingir as metas de redução de emissões. Diminuições que poderiam muito bem passar pela energia limpa, certamente, mas também por mecanismos bem questionáveis, como a compensação ou o confinamento geológico do dióxido de carbono. Também não é de se admirar que o texto parisiense não imagina nenhuma saída dos combustíveis fósseis e não põe em causa a nossa mobilidade motorizada."
A proteção do clima pode ser rentável
O “Tages Anzeiger” exorta a "rica Suíça" a assumir uma maior responsabilidade pela proteção do clima a nível internacional. "Cabe agora ao Parlamento melhorar as metas climáticas para que a Suíça desempenhe um papel pioneiro na proteção internacional do clima." Infelizmente, a maioria de direita do Parlamento não quer nem ouvir falar disso, recusando-se a ver as oportunidades que isso representa para a economia, as instituições financeiras e de seguros, lamenta o diário de Zurique.
No entanto, o “Südostschweiz” avança que o acordo climático envia um sinal claro para a economia: agora vale a pena investir na proteção do clima. "A competitividade de um país é medida pela velocidade com que ele gere o seu ponto de viragem energético. Isto também se aplica a empresas e investidores", escreve o jornal publicado nos Grisões.
É exatamente nesse sentido que Bertrand Piccard se exprime nas colunas do diário financeiro “Agefi”. Nos olhos do aventureiro suíço, pai da aeronave Solar Impulse, o discurso ecológico tem que mudar: é preciso parar de querer diminuir e falar de custos, são os benefícios que permitem o avanço das coisas. "Falemos das soluções existentes em vez dos problemas. Há uma abundância de tecnologias limpas hoje para aumentar a eficiência energética ao ponto de reduzir para metade as emissões de CO2 e o uso dos recursos naturais (…) É preciso atrair os investimentos em busca de rentabilidade e não os doadores resignados".
Adaptação: Fernando Hirschy,
swissinfo.ch