Integrantes virtuais do Gorillaz falam sobre flertes, viagens por dentro de baleias e a “festa apocalíptica” de Humanz
Noodle, Russell Hobbs, 2-D e Murdoc, os membros animados da banda, comentam o mais recente disco antes de desembarcarem no Brasil para o primeiro show no país, em São Paulo
por Lucas Brêda
27 de Março de 2018 às 18:00
É 2018 e enfim o Gorillaz vai se apresentar no Brasil. O grupo, que na vida real é formado por Damon Albarn (braço musical) e Jamie Hewlett (responsável pelos visuais) tem uma apresentação marcada no Jockey Club de São Paulo, na próxima sexta, 30, com a turnê do álbum Humanz, o quinto da discografia, de 2017. Antes de desembarcarem no país, os personagens do quarteto “animado” – a guitarrista Noodle, o baterista Russell Hobbs, o vocalista 2-D e o baixista Murdoc – respondem algumas perguntas enviadas por e-mail pela Rolling Stone Brasil.
Entre os assuntos, 2-D explora o período anterior à feitura de Humanz, em que esteve dentro de uma baleia; Noodle é lacônica ao comentar o significado do nome do disco; Russell compara o trabalho a uma “festa apocalíptica”; e Murdoc esclarece o “affair” que teve com a cantora Grace Jones, que empresta a voz a uma das faixas do último LP da banda. O baterista chega a citar “Momentz” como uma das favoritas dele em Humanz e a canção conta com os vocais do De La Soul, histórico grupo de hip-hop que é um dos convidados do Gorillaz – na vida real – para o show em São Paulo, assim como a rapper britânica Little Simz.
Humanz, disco lançado no ano passado, quebrou um jejum de seis anos do grupo sem material inédito. Bastante diverso, sombrio e com momentos frenéticos, o LP é longo (são 26 músicas e mais de 1h de duração na versão de luxo) e traz uma lista de participantes tão vasta quanto estrelada, com Mavis Staples, Danny Brown, DRAM, Popcaan, Vince Staples, Kelela, Pusha T, Kali Uchis, Benjamin Clementine, Jehnny Beth (da banda Savages), Zebra Katz e Kilo Kish, entre outros. Até mesmo o ex-Oasis Noel Gallagher, antigo desafeto de Albarn na época do Blur, colabora com uma das canções.
Abaixo, leia a íntegra da nossa entrevista com os integrantes virtuais do Gorillaz.
Rolling Stone Brasil: Vocês são personagens digitais, então, como foi trabalhar com seres humanos reais, como Noel Gallagher, Grace Jones e Danny Brown? E por que o disco se chama Humanz?
Noodle: Quando a manhã chega, continuamos sendo humanos. Como vamos saber?
As batidas em Humanz são bem diversas, tem momentos mais tranquilos e outros mais velozes e eletrônicos. O que o inspirou na feitura deste álbum?
Russell Hobbs: Chicago foi uma grande inspiração, Pevan, Pusha T, Jamie Principle – esses gatos nos ajudaram a transformar Humanz em uma festa apocalíptica em um depósito abandonado, com momentos eufóricos de animação e quedas para partes menos agitadas e sombrias conforme a noite vai progredindo, e uma PUTA de uma ressaca no fim de tudo.
Qual é a sua música favorita de Humanz?
R: “Ascension” traz a força de volta. Quando a batida vem, Humanz ganha um choque de vida como um ciborgue dançando que nem doido. “Momentz”, porque amo e respeito muito nossos irmãos do De La Soul. “Let Me Out” pela mamãe Mavis, uma inspiração. Poderia seguir falando para sempre, mas você provavelmente tem um limite de caracteres.
O que você levou da experiência de ser engolido por uma baleia?
2-D: Aprendi que estar dentro de uma baleia quando ela está acasalando (vi isso na National Geographic então eu sei o barulho que faz) é estranho, claustrofóbico e vergonhoso, e você é jogado de um lado para o outro um pouco. Mas é até que amigável.
Atualmente, vocês têm uns visuais muito legais em 3D. É frustrante continuar sendo 2-D?
2-D: Na realidade, 2-D quer dizer “Two Dents”, as “cicatrizes” que o Murdoc fez em mim com o carro duas vezes, antes de eu entrar na banda. Isso até que me derrubou um pouco, mas não completamente. Mas seria legal ser realmente bi-dimensional. Eu poderia ficar grudado nas paredes dos quartos dos fãs e fingir ser um pôster do Gorillaz. E aí, à noite, eu poderia sair rolando e dormir em um daqueles tubos de pôster.
Vocês tiveram várias colaborações em Humanz, mas é verdade que você teve um affair com Grace Jones?
Murdoc: Uma senhora muito esperta a Grace, mas definitivamente alguém com quem você não deve brincar. Conversamos sobre amor depois da sessão de gravação. Ela disse que era areia demais para o meu caminhãozinho. Ela não chegou a me bater nem nada do tipo, então entendi que houve um respeito mútuo ali.
Fiquei sabendo que você não pode sequer ouvir o nome do presidente dos Estados Unidos. Lembra qual foi a sua reação no dia da eleição dele?
M: Você sabe, depois das trevas vem a luz. Às vezes, precisamos de uma dose de tempos ruins para que nos lembremos das coisas pelas quais realmente vale a pena lutar. Um pouco como quando os varejistas estão fechados e tudo que você tem na despensa é um suco [da marca britânica] Innocent. Porra, aquela foi uma longa noite de reflexões.
Consegue descrever algumas cenas das gravações de Humanz?
M: Uma boa historinha de quando fizemos “Carnival”. Eu estava em uma festa de carnaval em Trinidad, fiquei absolutamente preso com um “suco da morte” local. Cheguei em uma funerária achando que era meu hotel e acabei me deitando com os cadáveres. Dormi como os mortos, também, até que fui acordado por um som bizarro vindo da parede. Meu primeiro pensamento foi: “É a porra do demônio voltando para me buscar”. Na realidade, era um zelador com o aspirador de pó. Eu poderia tê-lo beijado. Tá bom, eu o beijei.
Gorillaz em São Paulo
30 de março (sexta-feira), às 21h
Jockey Club | Rua Dr. José Augusto de Queiróz, s/nº – Portão 1
Ingressos: entre R$ 280 e R$ 560