Paulo Carvalho é poeta, compositor e, curiosamente, psiquiatra. Tais vocações são, segundo ele mesmo, unidas e amarradas por um só “fio inquebrantável”, que é a devoção e o amor às palavras. O músico lançou no último dia 20, simultaneamente, o álbum Carvão (terceiro da carreira), e o livro de poemas Quintal (estreia de Paulo nas prateleiras das livrarias), fazendo com que seja impossível discordar da definição que traz de si mesmo: “seja escrevendo letras, seja cantando, criando meus poemas ou escutando meus pacientes, estou sempre a serviço das palavras”.
Os dois trabalhos recém lançados carregam, seja na voz ouvida no disco ou nas palavras lidas no livro, uma delicadeza que tranquiliza, mas que também faz refletir (assim como um bom profissional da área da saúde mental deve fazer). Em entrevista exclusiva à Rolling Stone BR, ele conta que “a delicadeza é uma forma de afirmação poderosa nestes tempos de violência que estamos vivendo. É resistência. É contraponto. É a saída para salvar-nos dessa profunda anestesia. É possível lutar com uma rosa em punho e eu, quando possível, procuro sempre esse caminho.” Caminho que parece se abrir com uma certa naturalidade para ele, que conta que quando está só, “não há escolha. Ou nasce poema ou nasce canção. É um pedido inconsciente, uma voz interior que já decide a natureza e o caminho das palavras.”
Paulo tece e permeia cada uma das resposta com diversos graus de leveza e reflexão. Quando questionado sobre a relação entre a atuação na psiquiatria e a criação artística, ele conta que a primeira “é uma profissão de grande conteúdo humanista. Conectar-se com o outro para achar a cura: isso muito me influencia. A conexão com o humano. A descoberta desse tesouro que é o outro. Como psiquiatra, acho uma riqueza escutar histórias tão diversas, pois ao me sentir tocado por elas, sinto-me compelido a me comunicar cada vez mais. Por isso, brinco que no consultório faço uma medicina particular, e na arte, seja música, vídeo ou poesia, realizo uma medicina pública”, além de evidenciar a importância da arte na vida de qualquer pessoa, como cura e salvação, descrevendo como “um lugar que estimula o autoconhecimento”, que potencializa as percepções e aprimora a sensibilidade humana, ou, como ele mesmo finaliza, “é o verdadeiro encontro consigo mesmo”.
Carvão, descrito pelo próprio compositor como um trabalho que “foi idealizado a partir de pilares que construí com parceiros tão talentosos e generosos como André Lima, Arnaldo Antunes, Bruno Morais, Curumin e Marcelo Jeneci”, é um disco com sete faixas que veio como sucessor imponente de O Amor É Uma Religião (2012).
O discurso de Paulo Carvalho habita em um espaço único que dança entre todas as áreas em que ele se envolve. Um diagnóstico pode soar como um poema ou como uma música, enquanto apenas uma reflexão pode facilmente ser interpretada como um diagnóstico.
Assista abaixo ao clipe de “O Amor Não É Pra Ser Amado”.