O brasileiro Leandro Lapagesse, um dos maiores fãs e conhecedores da vida e da carreira de Jackson, foi ao evento e, neste depoimento, conta tudo que viu
Leandro Lapagesse, de Las Vegas
Em uma certa data, em meados de 1987, um menino de cinco anos aguarda a chegada da mãe para saber qual seria a surpresa prometida por ela no dia anterior. No início da noite, ela chega trazendo um fantoche para ele e uma fita K7 para seu irmão. Enquanto o menino brincava com seu brinquedo novo, seu irmão apertou play no toca fitas e os dois ouviram um riff de baixo bem marcante, acompanhado da frase inicial “Your butt is mine”. Foi o suficiente para que o menino deixasse o fantoche de lado para admirar a capa da fita, que trazia um cara vestindo uma jaqueta de couro e uma calça preta cheia de fivelas e zíperes (anos depois, ele saberia que a foto foi escolhida para estampar a capa do álbum na última hora, já que a gravadora não aprovou a foto escolhida pelo artista por ser feminina demais). O menino tomou posse da fita e seu mundo nunca mais foi o mesmo. O álbum era Bad, este menino sou eu e esta fita foi o primeiro item de uma coleção de artigos relacionados a Michael Jackson que hoje é a maior da América Latina.
De lá pra cá muita coisa aconteceu até culminar no último dia 29, data quando Michael faria 60 anos. A convite da Sony Music Brasil, fui para Las Vegas para participar da MJDiamondCelebration, evento que celebrou o aniversário, a vida e a carreira do Rei do Pop – ou como disse Elizabeth Taylor na entrega do primeiro Sammy Davis Jr Award, no Soul Train Awards de 1989, “o verdadeiro rei do pop, rock e soul”.
Às 13h daquela quarta-feira, cheguei ao último complexo de cassinos e hotéis da famosa Las Vegas Blvd, onde fica o Mandalay Bay. Lá, o Teatro Michael Jackson ONE foi construído especialmente para abrigar o espetáculo homônimo do grupo circense canadense Cirque du Soleil. Uma hora e meia depois, foram servidos drinques e bolo (sim, teve bolo de aniversário e estava uma delícia) logo antes de um meet and greet com os representantes do espólio de Michael, John Branca e Karen Langford. Branca cuidou da carreira de MJ durante muitos anos, foi o produtor do nababesco curta-metragem Thriller (que custou US$ 1 milhão, sendo que os clipes musicais da época custavam cerca de US$ 50 mil) e já trabalhou com Rolling Stones, Carlos Santana, Bee Gees e Aerosmith. Branca também ajudou MJ na compra do ATV Music Publishing, catálogo com os direitos autorais das músicas dos Beatles e Little Richards, por US$ 47,5 milhões (se provou um ótimo negócio, mas foi algo que abalou a amizade entre Michael e Paul McCartney).
Presenteei os dois com cópias do livro A Dança dos Sonhos, versão brasileira e bilíngue do original Dancing The Dreams, que traz poemas escritos pelo próprio MJ. Comprei os direitos há anos para organizar esse livro, que conta com a tradução da poetisa e especialista em tradução poética Thereza Christina Motta. Curiosamente, esses Estes poemas nunca haviam sido traduzidos para nenhuma língua.
A tarde seguiu com uma tarde de autógrafo em frente a uma loja de artigos relacionados ao universo de Michael Jackson, mas logo já era hora de voltar para o hotel e me aprontar para o evento principal. Devidamente arrumado e usando o mesmo perfume que MJ usou no dia em que estive com ele em Copacabana (11 de fevereiro de 1996. Desde aquele domingo eu só uso esse mesmo perfume), quando veio ao Brasil gravar o curta They Don’t Care About Us, voltei ao Teatro para a apresentação VIP de ONE.
Eu já havia assistido a este espetáculo em 2015, mas parecia a primeira vez, senti muitas coisas ao entrar lá. As paredes são cobertas por painéis de LED, nos quais são projetadas capas de jornais e revistas trazendo “fake news” sobre pessoas da plateia (atores interpretam paparazzi e tiram fotos dos escolhidos, fazendo referência à triste relação de MJ com a imprensa mundial). Com uma equipe de criação formada por mais de 30 pessoas, MJ ONE é emocionante do início ao fim. Eu destacaria o número “Leave Me Alone” / “Tabloid Junkie” / “2 Bad”, que trata justamente da de privacidade de Michael e que tem uma cenografia inspirada em boatos envolvendo a vida pessoal dele. Alguns exemplos: o boato de que ele dormia em uma câmara hiperbárica para não envelhecer e o de ter comprado os ossos de Joseph Merrick, conhecido como “Homem Elefante”. Também sobrassem os protestos de “They Don’t Care About Us” e o final que, claro, não vou contar.
Terminada a apresentação, segui direto para a Daylight Beach Club, casa onde aconteceu a pool party para celebrar a data. No meio da piscina estava o DJ Mark Ronson, que tocou clássicos remixados de MJ, inclusive o recém-lançado remix “Diamonds Are Invincible”. Em frente à piscina, separado apenas pela área reservada ao convidados VIPs, ficava um bem equipado palco com três telas de LED e uma iluminação completa.
A apresentação da festa ficou por conta de Sway Calloway, que logo chamou o neto de Elizabeth Taylor, Quinn Tivey. Ele fez um discurso lindo sobre a fundação criada pela avó, uma das grandes amigas de MJ, e chamou ao palco os filhos de Michael, Paris e Price Jackson. Paris foi premiada com o “Elizabeth Taylor Legacy Award” e se tornou embaixatriz da instituição (como mostrei ao vivo no stories da Rolling Stone Brasil), incentivando os presentes a doarem US$ 20 para o projeto. Os doadores ganharam pins e bottons como agradecimento. Eu trouxe os meus, claro.
Tito Jackson, Angela Bassett, Nelson George, DJ Quik, Hi-C, Blake Griffin, Evan Ross e Ashlee Simpson Ross estavam presentes, comemorando junto aos outros convidados, quando outro momento emocionante da noite aconteceu. O apresentador fez um lindo discurso sobre solidariedade e amor ao próximo, incentivando a plateia a se abraçar e fazer novas amizades. Foi quando conheci Hana, uma japonesa de 24 anos com quem passei bons momentos naquela noite. Depois, passei momentos melhores ainda no no backstage, com Paris e Price Jackson que, pesar de me parecerem bem tímidos, foram gentis com as pessoas e se divertiram bastante em meio aos fãs.
Antes do dia chegar ao fim, ainda tinha mais uma atração. O cantor Usher subiu ao palco para uma apresentação forte, que levou os convidados ao delírio. Vale comentar que a festa toda tinha uma decoração incrível, baseada no conceito de diamantes (inclusive brownies, doces, guardanapos, bandeiras e copos, além do bolo).
Voltei para o hotel, refazendo o caminho que Michael fez tantas vezes, ainda tentando absorver o mix de emoções que vivi naquele dia. Preciso confessar que só mesmo um drinque no cassino, antes de subir pro quarto, me fez conseguir relaxar e dormir, na esperança de sonhar com o que eu tinha acabado de viver, só para viver novamente.