Em livro, Brian Wilson, dos Beach Boys, fala sobre drogas, saúde mental e o clássico Pet Sounds
Em Eu Sou Brian Wilson, artista abre o coração
por Paulo Cavalcanti
20 de Julho de 2018 às 16:27
Nesta sexta, 20, Brian Wilson completa 76 anos. O ex-líder dos Beach Boys, considerado um dos maiores compositores de todos os tempos, teve uma vida atribulada e repleta de dramas pessoais e de traumas psicológicos. Boa parte dos percalços pelos quais ele passou foram bem cobertos pela imprensa. Em 2016, aproveitando a boa a recepção do filme biográfico The Beach Boys: Uma História de Sucesso (2014), Wilson lançou uma autobiografia, chamada originalmente de I Am Brian Wilson. Agora, ela sai no Brasil pela Editora Novo Século, com o título de Eu Sou Brian Wilson.
Na verdade, esta é a segunda autobiografia creditada a Brian Wilson. Em 1991, foi lançado Wouldn’t It Be Nice: My Own Story, livro que foi mal recebido pela crítica. O autor, Todd Gold, ainda por cima, foi acusado de plágio. Wilson também renegou a obra, dizendo que havia sido manipulado pelo seu psiquiatra na época, o Dr. Eugene Landy, a participar do livro e dizer que era uma “autobiografia” – o artista declarou que conversou brevemente com Gold e não sabia como o material seria utilizado posteriormente. Em meio a uma serie de processos e ação legais (incluindo algumas de Mike Love e Al Jardine, também integrantes dos Beach Boys), o livro foi retirado das lojas e nunca mais foi relançado.
Mas Eu Sou Brian Wilson está em outra categoria. Wilson narrou sua pungente história ao jornalista Ben Greenman e o artista aparece verdadeiro e transparente nas páginas da obra, sem perder o jeito confessional e informal. Humilde e generoso, Wilson deixa claro que a música sempre esteve acima de tudo na vida dele e louva seus heróis, como Paul McCartney, Bob Dylan, Phil Spector e George Gershwin, além do grupo vocal The Four Freshmen. Vale a pena também ler o que ele fala sobre a concepção e gravação de Pet Sounds (1966), álbum dos Beach Boys que mudou a história da música popular e é considerado até hoje uma grande obra-prima do rock.
Por décadas Brian Wilson lutou contra problemas de saúde mental. Ele foi diagnosticado esquizofrênico e confessa que ainda “ouve vozes em sua mente”. O músico não esconde nada disso e conta que foi um homem doente, deprimido, paranoico, obeso, repleto de temores e inseguranças. Atribui o recente período de estabilidade à Melinda, sua segunda esposa. Wilson também fala das décadas de abuso de drogas, primeiro com maconha e LSD e depois, com cocaína. E conta tudo com honestidade, relatando ainda suas muitas perdas, como as dos irmãos Dennis e Carl Wilson, mortos respectivamente em 1983 e 1998.
Na obra existem alguns “vilões”. O principal deles é Murry Wilson, pai de Brian, um homem tirano e violento. Ele foi responsável pelo começo do sucesso dos Beach Boys, mas também traumatizou psicologicamente o filho para sempre. Outro antagonista é Eugene Landy, que ajudou o músico a sair do fundo do poço na metade da década de 1970, mas também se tornou “dono” dele por um tempo. Foi difícil para o astro se livrar do falecido Landy, e Wilson não esconde o desconforto ao falar sobre isso no livro. O terceiro destes é Mike Love, o principal vocalista dos Beach Boys e primo dos irmãos Wilson. Love foi fundamental no sucesso da banda e ajudou criar a mitologia ao redor da banda californiana, mas o frontman nunca respeitou a força criativa do primo sensível e talentoso, muitas vezes apelando para o bullying para ver suas ideias serem aceitas dentro do núcleo dos Beach Boys.
Brian Wilson até hoje é uma boa alma, como uma criança crescida que nunca achou o seu lugar no mundo, mas que graças à genialidade da música que criou ainda toca a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. Já o essencial livro Eu Sou Brian Wilson é uma prova que sucesso, fama e dinheiro nem sempre trazem felicidade e não impedem que qualquer pessoa seja devorada por uma legião de demônios internos.