Dez coisas que aprendemos sobre Jay-Z assistindo à entrevista de David Letterman com ele

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Dez coisas que aprendemos sobre Jay-Z assistindo à entrevista de David Letterman com ele


Do assassinato do tio dele ao famoso caso de adultério, cantando em uma música de Beyoncé; o rapper está no novo episódio de O Próximo Convidado Dispensa Apresentação, disponível na Netflix

por Rolling Stone EUA
10 de Abril de 2018 às 19:21

David Letterman aprende sobre a vida no rap, no tráfico e nas ruas no episódio mais recente de O Próximo Convidado Dispensa Apresentação.

E isso graças ao convidado Jay-Z que, mesmo em frente a uma atenta plateia, que incluía o diretor e produtor Judd Apatow, não se intimidou com perguntas complexas como “O que é o ‘flow’?”, ou “Existem rappers que são bem sucedidos, mas não são bons?”. A conversa entre o jornalista e o rapper, antes conhecido de H.O.V.A, caminhou amigavelmente entre o pessoal (dificuldades conjugais, orientação sexual da mãe de Jay-Z) o político (o presidente Trump, a reforma da justiça penal). Muitas vezes, a alternância entre os assuntos veio de transições nada delicadas, mas certamente engraçadas de Letterman.

Abaixo, dez coisas sobre o Jay-Z que descobrimos assistindo à entrevista de Letteman:

1 – Jay-Z reconhece as próprias influências e não precisa falar mal das pessoas para isso

Logo no início da entrevista, Letterman compara Jay-Z ao pintor Pablo Picasso, e pede ao rapper que diga quem seria seu Henri Matisse, artista conhecido por influenciar a obra de Picasso. “Há tantas pessoas ótimas”, responde Jay-Z. “Biggie, Smalls, claro, Tupac, claro… Rakim, Big Daddy, Kane, Skick, Rick”.

Letterman, então, muda a pergunta: “Existem rappers que são bem-sucedidos e não são bons?”. “Claro”, retruca Jay-Z, “Como em todo o lugar, acontece sempre”. Letterman pressiona o rapper para que ele diga um nome de alguém que esteja no topo das paradas, mas não saiba fazer rap de qualidade e, neste momento, Jay-Z responde diplomaticamente, devolvendo outra pergunta: “Que tal isso: quem está na TV, fazendo talk-show noturno, e não é, nem de longe, engraçado?”. Pontuação: Jay-Z: 1 x Letterman: 0.

2 – Uma viagem a Londres ajudou Jay-Z a escapar por pouco de ser preso

“O crack estava por toda a vizinhança”, Jay-Z diz a Letterman quando questionado sobre crescer em uma comunidade e começar a traficar. Ele foi recrutado por um dono de uma loja para ser revendedor e por isso começou a fazer viagens para Treton, aproveitando para vender drogas. “Ninguém sobrevive a isso”, observa Jay-Z. “Ou vai para a cadeia ou você acaba morto.”

Mas o destino interveio quando ele foi para Londres gravar com o rapper Jaz-O, que tinha um contrato com a EMI Records. “Durante esse período que eu estava fora, alguém dedurou o esquema e 30 amigos meus foram pegos”, lembra Jay-Z. “Um dos meus amigos mais próximos ficou preso por 11 anos”.

3 – Rappers diferentes fazem sucesso por motivos diferentes

Letterman não finge entender que sabe o que significam as coisas no mundo do hip-hop. “O que é o ‘flow’?”, ele pergunta a Jay-Z. O rapper é cortês e explica como funcionam algumas coisas. “Você pode ter uma ótima voz e você pode dizer quase qualquer coisa”, aponta Jay-Z. “Eu acho que Snoop Dogg tem uma boa voz, ele pode dizer: ‘um, dois três e depois quatro’ e é tipo ‘nossa, que incrível’, fica realmente muito bom. Ou você pode ser igual ao Eminem e ter uma cadência incrível. A síncope (começa a cantar a música “The Way I Am”): ‘I sit back with this pack of Zig-Zag’s and this bag..’, torna-se percussão dentro da música. Existem várias maneiras de ser realmente bom. E algumas pessoas simplesmente têm tudo.”

4 – Jay-Z acredita que o hip-hop transformou a “palavra com N” em uma palavra de empoderamento

Depois de discutir o relacionamento de Jay-Z com Kayne West (“Ele é como um irmão para mim, você se dá bem com sua família o tempo todo?”), Letterman muda o rumo da entrevista e começa a falar sobre a linguagem do rap. “Desculpe-me por não entender nada sobre isso”, diz o entrevistador, “mas quero perguntar sobre o uso da ‘palavra com N’ no hip-hop”.

Jay-Z responde a questão na boa. “Essa palavra era usada para rebaixar toda minha cultura. O que o hip-hop fez foi virar o jogo e usá-la como palavra de empoderamento”, diz ele. “Existem pessoas que discordam de mim, e tudo bem. Algumas outras ficam extremamente ofendidas, mas porque são de outras gerações e sabem que essa foi a palavra que muita gente ouviu logo antes de morrer. O problema está na intenção atrás da expressão. As pessoas que são inerentemente racistas simplesmente substituirão por uma palavra diferente ou por um jeito diferente de expressar o racismo.”

5 – O rapper chorou quando a mãe admitiu estar apaixonada por outra mulher

Quando o disco 4:44foi lançado no ano passado, a música “Smile” chamou atenção ao revelar que a mãe do rapper, Gloria Carter, é lésbica. “Imagine ter que viver sua vida como outra pessoa e pensar que é para proteger seus filhos”, diz Jay-z a Letterman. “Antes não era como é agora, quando somos mais receptivos ao modo de vida de cada um”.

Jay-Z conta: “Para minha mãe ter vivido a vida como alguém que ela não era, se esconder e proteger os filhos… por todo esse tempo, para ela se sentar na minha frente e me dizer ‘Eu acho que eu amo alguém’, eu realmente, chorei… Eu estava tão feliz que ela estava livre… Eu sabia [que ela era gay], mas essa foi a primeira vez que tivemos essa conversa, a primeira vez que eu a ouvi dizer que ela amava a parceira. ‘Eu sinto que eu amo alguém’. E mesmo assim ela ainda estava insegura – tanto que ela não disse ‘eu estou apaixonada’, e eu comecei a chorar…”

6 – O assassinato do tio de Jay-Z dividiu sua família

O pai de Jay-Z abandonou a família quando o rapper tinha “cerca de 10 ou 11 anos. Quando criança, eu tinha muita raiva dele”, explica. Mas com o tempo, ele entendeu quais foram as circunstâncias que levaram à partida do pai. “O irmão dele foi morto em uma das comunidades”, o rapper contou. “Uma noite, alguém ligou em casa e disse: ‘Acabei de ver o cara que matou seu irmão’. Meu pai se levantou da cama, pegou uma arma e saiu de casa. Em algum momento, minha mãe falou: ‘Você tem uma família aqui’. Mas ela não tinha a habilidade de que precisava para dizer ‘nós amamos você, não queremos perder você também’. Então, o medo dela parecia como um ultimato para ele… Isso arrebentou o relacionamento dos dois. Ele estava sofrendo muito e começou a usar drogas pesadas, como a heroína.”

7– A famosa rivalidade da Costa Leste contra a Costa Oeste dos anos 1990 era equivocada

“A ideia dessas brigas de rap… realmente começaram como um esporte competitivo, como o basquete”, contou Jay-Z. “Para eu pegar o microfone e começar a rimar em frente ao público, eu tinha que ser o melhor. Então, se você diz que a sua rima é melhor, eu digo que é a minha. Não é uma coisa hostil. Vamos nos aperfeiçoar juntos. Não estávamos fazendo rap por nós mesmos no começo, estávamos fazendo pelo DJ. A ideia era que você deveria manter as pessoas interessadas no DJ… é por isso que todos os nomes dos DJs vinham primeiro: Eric B e Rakim, Jazzy Jeff e o Fresh Prince. O MC não estava à frente.”

Ele reconhece a rivalidade entre a costa Leste e a costa Oeste, que culminou com a morte do Notorious B.I.G. e Tupac, “era muito feia”. “Acho que agora todos aprenderam a lição do que isso realmente pode fazer, até onde toda essa briga poderia chegar”, acrescenta. “Perdemos duas pessoas incríveis. Acho que todos demos um passos para trás e dissemos: Nnão é isso que é o hip-hop’”.

8 – Foi a professora da sexta série que fez Jay-Z gostar de línguas

“Eu amava a aula dela, amava ler o dicionário”, lembra Jay-Z. “Meu amor pelas palavras – Eu me conectei com ela. A professora levou a classe para a casa dela em uma viagem de campo. A geladeira dela fazia gelo, e naquela época ninguém tinha uma dessas. Eu pensei ‘Cara, talvez eu seja um professor de inglês no futuro’.”

9 – Jay-Z acha que as ações do presidente Trump ajudarão a estimular a atividade política progressista

Depois de conversar sobre o caso da série Time, produzida por Jay-Z, sobre Kalief Browder, nova-iorquino que passou mais de três anos na cadeia sem nunca ter sido condenado, até o caso ser descartado, Letterman resolve falar abertamente sobre o presidente Donald Trump: “Estou começando a perder a confiança na administração Trump”, diz ele. “O que você acha daquilo?”

Jay-Z prefere pensar com otimismo. “Eu acho que o ele está forçando as pessoas a fazer é a conversar, se unir e trabalhar em grupo”, explica o rapper. “Você não pode se dirigir a algo que não foi revelado. Ele está trazendo um lado feio dos Estados Unidos para a superfície, um lado que nós gostávamos de acreditar que não existia mais. Nós ainda temos que lidar com essas coisas. Temos que ter conversas duras – falar sobre a ‘palavra do N’, falar sobre como homens brancos são tão privilegiados nesse país.”

Jay-Z diz a Letterman: “É preciso de pessoas com você, especialmente todos os jovens do país, falando e dizendo: ‘Isso não está certo, eu não represento o que ele representa e vou mudar isso’.” Então, o rapper faz uma previsão ousada: “Acho que veremos números recordes na próxima eleição”.

10 – Jay-Z e Letterman acreditam que seus casamentos estão agora mais fortes, após períodos conturbados de infidelidade causados por eles

A entrevista de Letterman chega a uma conclusão embaraçosa na qual o apresentador faz alusão ao próprio caso de adultério – sem jamais falar explicitamente – e pergunta a Jay-Z: “Estou pensando se isso te lembra de algo?”. Embora o rapper tenha se desculpado inúmeras vezes pelos desvios no casamento no disco 4:44, ele segue a linha de Letterman e evita referências diretas a eventos passados – Jay-Z nem chega a dizer o nome da esposa, Beyoncé. “Para muitos de nós – especialmente onde eu cresci e para homens em geral – não há pistas emocionais. Se você é um homem, você tem que ficar em pé e não pode chorar… Eu quero ser aberto, quero ter as ferramentas emocionais necessárias para manter minha família unida.”

Ele continua: “Eu tenho uma linda esposa que é compreensiva, que sabe que não sou representado pelas piores coisas que já fiz. Tivemos o trabalho de ir à terapia juntos. Nós nos amamos. Fizemos um esforço. A música que estou fazendo agora é resultado de coisas que aconteceram. Como você, eu gosto de acreditar que estamos em um lugar melhor hoje, mas ainda trabalhando, ainda nos comunicando e crescendo.”

O episódio de O Próximo Convidado Dispensa Apresentação do Jay-Z se chama “Eu Também Tinha uma Rota” e já está disponível na Netflix. Veja o trailer abaixo:



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