Crítica: Em Kamikaze, Eminem reclama do cenário atual do rap, que o deixou para trás
O disco foi lançado pouco tempo depois do amplamente criticado Revival, de 2017
por Stephen Kearse
4 de Set. de 2018 às 16:51
Slim Shady está de volta (de novo). Na última sexta, 31, Eminem lançou o álbum surpresa Kamikaze, o segundo em menos de um ano (sucedendo o amplamente criticado Revival, de dezembro de 2017). O disco apresenta um enorme esforço em reclamar e falar mal do cenário atual do rap, que parece ter deixado o rapper para trás, se mostrando cada vez mais distante daquilo que ele vê como ideal.
Eminem preenche os 46 minutos de duração de Kamikaze de forma superficial, listando nomes de outros compositores que ele não acha que merecem a fama que têm. As rimas, apesar de serem melhores que no projeto anterior, continuam não sendo interessantes nem prazerosas. As palavras são contorcidas, esticadas, mastigadas e cuspidas o tempo todo, e sem motivo algum. Ao longo do disco ele se apresenta como uma pessoa virtuosa e negligenciada, mas tudo — a intensidade, a vontade de chocar o público, sua guerra contra os “mumble rappers” — parece forçado.
Apesar de tantas reclamações, ele parece não ter nenhuma percepção nem ideias sobre o estado atual do rap, muito menos pensamentos e comentários significativos sobre seu próprio lugar dentro do gênero. Ele faz rap apenas pela pura adrenalina de se ouvir cantando.
A faixa “Stepping Stone” é a única que exibe um afastamento do ego do rapper. Na faixa, ele pede desculpas por não ter sido um bom líder para o grupo D12, tocando em um assunto delicado e trazendo à tona um grau de introspecção e dimensão gravemente ausentes no restos das composições do disco. E mesmo esse momento não dura muito: pouco após a metade da música, ele volta a se gabar do seu legado, sugerindo inclusive que seus fãs teriam o abandonado porque ele abandonou o D12.
Em uma era em que Kendrick Lamar ganhou um prêmio Pulitzer, as indignações e reclamações que Eminem faz em Kamikaze parecem não ter fundamento ou relação alguma com o mundo do rap atual, que se mostra vivo, vibrante e próspero.