Bruce Springsteen: 10 coisas que você não sabia sobre o álbum Darkness on the Edge of Town

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Bruce Springsteen: 10 coisas que você não sabia sobre o álbum Darkness on the Edge of Town


Descubra como o punk britânico e o country influenciaram esse clássico sombrio de 1978

por Rolling Stone EUA
5 de Junho de 2018 às 14:45

Com o lançamento do álbum Born to Run, em 1975, Bruce Springsteen alcançou o posto de ícone do rock dos anos 1970, da forma como o conhecemos hoje em dia. Mas assim como sucesso, o terceiro disco da carreira do músico trouxe uma avalanche de problemas e dores de cabeça que acabaram por ditar o tom – assim como atrasar as gravações – do próximo trabalho que lançaria, Darkness on the Edge of Town.

Springsteen conta na autobiografia Born to Run, lançada em 2016, que precisou lidar com uma enorme quantia de contas para pagar: estúdio, aluguel de instrumentos e taxas de advogados. Além de tudo isso, o músico conta que tiveram também “brigas cansativas” relacionadas ao contrato que ele e a banda E Street haviam assinado, que legalmente os impedia de gravar músicas novas sem a permissão de Mike Appel, empresário deles que Springsteen estava processando na época, para conseguir se livrar dos impedimentos mencionados.

Apesar dos planos de começarem a gravar o novo disco em junho de 1976, foi só um ano depois, quando as questões jurídicas entre o músico e o empresário foram resolvidas, que as faixas que fariam parte de Darkness on the Edge of Town começaram a surgir. Lançado em 1978, três anos após o antecessor, o álbum revelou um artista com visão e sonoridade diferentes daquelas que o acompanhavam antes, apresentando músicas mais tensas, compactas e mais duras que qualquer outra já gravada por Springsteen.

Na autobiografia ele conta que o “protagonista nestas canções tinha que se despir de tudo que fosse desnecessário para a sobrevivência. Em Born to Run, uma batalha pessoal foi enfrentada, mas a guerra coletiva continuou. Em Darkness, as implicações políticas das vidas de quem eu escrevia sobre tomaram a dianteira, e busquei músicas que não poderiam ser contidas.”

Para comemorar o aniversário de 40 anos de Darkness on the Edge of Town, selecionamos dez curiosidades sobre o álbum que talvez você não saiba.

Darkness foi o primeiro disco que Bruce Springsteen gravou ao vivo com a E Street Band. Mas isso não significa que o processo tenha sido rápido ou eficiente.
Em 1977, a E Street Band – então formada pelo guitarrista Miami Steve Van Zandt, saxofonista Clarence Clemons, pianista Roy Bittan, Danny Federici no órgão, bassista Garry Tallent e pelo baterista Max Weinberg – havia se tornado um grupo de músicos que conseguiam quase que telepaticamente se desdobrar para realizar qualquer extravagância musical sugerida por Springsteen. Essa afinidade resultou na decisão do cantor em gravar Darkness ao vivo no estúdio com a banda, o que, infelizmente, se mostrou uma ideia pouco eficiente graças à interminável busca do músico pela sonoridade perfeita. Esse fator acabou atrasando as gravaçõe em semanas, tempo que Springsteen passou buscando a perfeita sonoridade de bateria, com a ajuda do coprodutor Jon Landau e o engenheiro de som Jimmy Iovine.

Clássicos do cinema norte-americano, como Rastros de Ódio e Vidas Amargas, inspiraram as músicas e o ritmo geral do álbum.
Apesar de Darkness on the Edge of Town não ser um álbum conceitual, no sentido clássico da expressão, Springsteen queria que as faixas tivessem uma sensação cinemática – ideia surgida após ter assistido a filmes como Rastros de Ódio, de John Ford, e dramas policiais noir dos anos 1940 e 1950.

Em uma entrevista à Rolling Stone EUA em 1978, o músico contou que as músicas que escreve “não têm um começo ou fim em particular. A câmera foca, e depois desfoca.”
No documentário The Promise: The Making of Darkness on the Edge of Town, lançado mundialmente em setembro de 2010, Chuck Plotkin, responsável pela mixagem do disco, contou que Springsteen queria que a transição entre músicas soasse cinematográfica. De acordo com o próprio compositor, a mudança da faixa de abertura “Badlands” para a seguinte, “Adam Raised a Cain” (que carrega um cinismo na letra influenciado pelo filme , dirigido por Elia Kazan em 1955) deveria soar da seguinte forma: “imagine que você está no cinema, e na tela, há um casal fazendo um picnic. Então, a câmera corta bruscamente para um cadáver. Todas vez que essa música aparecer durante uma audição do álbum, ela vai ser esse cadáver.”

A sonoridade e a atitude do álbum foram parcialmente inspiradas no punk britânico.
“Eu estava buscando um som mais enxuto, mais agressivo”, o músico contou no documentário The Promise, explicando porque decidiu abandonar a “fórmula” de sucesso que havia usado em Born to Run. “Eu queria tornar as canções mais rígidas, e gravar de uma forma que transmitisse a sensação de algo insaciável.”

Durante a edição de 2012 do festival SXSW, Springsteen disse à plateia que “Darkness também foi fundamentado pela explosão do punk na época. Eu comprei todos os discos do começo do punk”, afirmado que a sonoridade apresentada por eles era destemida, além de desafiar o ouvinte. “Grande parte dessa energia acabou penetrando em Darkness”.

O recém-descoberto amor de Springsteen pela música country contribuiu para a composição das letras
Assim como o punk contribuiu para a sonoridade do álbum, o country foi se mostrando cada vez mais influente na escrita do compositor, que se encontrava atraído pela simplicidade das letras e pela atitude muitas vezes fatalista, aspecto que ele descreve como “reflexivo, engraçado e comovente. Mas era fatal. O amanhã parecia bem obscuro.”

Os maiores hits das sessões de gravação do Darkness acabaram sendo músicas que ficaram de fora do álbum e ganharam voz através de outros artistas.
O período entre Born to Run e Darkness on the Edge of Town foi talvez um dos mais prolíficos da carreira de Springsteen como letrista. Ele escreveu aproximadamente 70 músicas para o disco, e alguns artistas acabaram se beneficiando dessa produtividade. Southside Johnny, Robert Gordon, Greg Kihn e Gary U.S. Bonds gravaram faixas escritas pelo músico que ele achou que não combinariam com o clima sombrio do álbum.
Os destaques, porém, ficam por conta do grupo The Pointer Sisters, que gravou “Fire” – música que Springsteen diz ter escrito em 1977 para ninguém menos que Elvis Presley –, virando um grande hit, e Patti Smith, que lucrou o maior sucesso da carreira com “Because the Night”, faixa que Springsteen diz não ter finalizado pois era “uma música de amor, e eu realmente senti que não conseguiria escrever uma naquela época”, ele conta em The Promise.

“Darkness on the Edge of Town”, “Racing in the Street” e “Badlands” foram faixas que Springsteen começou a escrever pelo título, criando depois o resto da letra
No processo de composição do disco, Springsteen tentou um novo método para escrever as letras. Essa nova abordagem consistia em escrever em um caderno títulos impactantes de músicas, para depois tentar desenvolver a letra em si. Ele contou à Rolling Stone EUA, em 2010, que escolhia o nome, e então “buscava uma canção que merecesse o título”, como foi feito em “Badlands”,“Darkness on the Edge of Town” e “Racing in the Street”, relembrando que, após ter a ideia inicial, pensava: “é bom eu criar algo que mereça esse título”.

O riff principal de “Badlands” foi retirado da gravação de “Don’t Let Me Be Misunderstood”, da banda The Animals.
Ao longo da carreira, Springsteen fez inúmeras homenagens à banda britânica The Animals, seja mencionando em entrevistas ou fazendo cover de “We Gotta Get Out of This Place” e “It’s My Life”.

Durante o discurso que fez no festival SXSW, em 2012, o músico revela que o riff principal da faixa “Badlands” foi diretamente retirado do hit “Don’t Let Me Be Misunderstood”, que a banda lançou em 1965. “É o mesmo riff”, ele exaltou, tocando a introdução das duas músicas lado-a-lado na guitarra. “Ouçam bem, jovens: é assim que um roubo bem-sucedido é feito”.

O álbum originalmente seria chamado Badlands, e o departamento de arte da Columbia Records já até havia criado uma capa.
Durante a maior parte da produção, o álbum levou o nome de Badlands, e o departamento de arte da Columbia Records inclusive chegou a produzir, em 1977, uma capa para o disco com esse título, em um ato desesperado de lançar logo novo material do músico.

A tracklist dessa versão prévia do disco exibia duas músicas que não estariam presentes no produto final: “Don’t Look Back” (oficialmente lançada apenas em 1998), substituída por “Darkness on the Edge of Town”, e “Independence Day” que, assim como “Drive All Night”, “Sherry Darling” e “Ramrod”, foram gravadas durantes as sessões de Darkness, mas chegariam ao público apenas no disco The River, de 1980.

O icônico solo de saxofone de Clarence Clemons na música “Badlands” foi uma adição feita de última hora
Conforme as faixas de Darkness começaram a tomar forma, Springsteen percebeu que a sonoridade agressiva e robusta que ele buscava exigia uma abordagem mais voltada para a guitarra, deixando menos espaço para a participação do saxofonista de longa data Clarence Clemons.

O disco já estava no estágio de masterização quando Springsteen se deu conta de que o projeto precisava de mais saxofone, então convocou Clemons para adicionar o icônico solo em “Badlands”. No documentário The Promise, ele recorda que a música tinha apenas um solo de guitarra, que foi retirado para que Clemons fizesse sua parte.

As fotos dos discos Darkness on the Edge of Town e The River são da mesma sessão feita em 1978 pelo fotógrafo Frank Stefanko.
Springsteen recorda que foi Patti Smith quem indicou para ele o fotógrafo Frank Stefanko, responsável pela sessão de fotos em 1978 que deu origem às capas de Darkness e The River. “Quando eu visitei [Patti] durante uma das apresentações no Bottom Line, ela me deu o nome desse fotógrafo, e disse ‘Você precisa deixar esse cara te fotografar’”.

O resultado do trabalho foi tão bom, que acabou levando Springsteen de volta ao ensaio dois anos depois, quando buscava uma capa para o sucessor de Darkness on the Edge of Town.



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