“A direita no Brasil é um horror, e infelizmente a esquerda também”, diz José Padilha na estreia de O Mecanismo

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“A direita no Brasil é um horror, e infelizmente a esquerda também”, diz José Padilha na estreia de O Mecanismo


Em coletiva de imprensa, o elenco comenta política e a relação entre verdade e ficção na série inspirada pela Operação Lava Jato

por Igor Brunaldi, do Rio de Janeiro
15 de Março de 2018 às 15:14

Na próxima sexta, 23, a Netflix estreia mais uma produção original brasileira. A série O Mecanismo, encabeçada pelo diretor José Padilha (Narcos, Tropa de Elite) e pela roteirista Elena Soarez (Filhos do Carnaval), é baseada nos fatos da Operação Lava Jato e conta com uma equipe de astros e estrelas do cinema e da televisão nacionais. Selton Mello interpreta Marco Ruffo, um delegado obcecado em desvendar, expor e quebrar o esquema de corrupção do doleiro Roberto Ibrahim, vivido por Enrique Díaz. Ruffo conta com a ajuda da também policial Verena Cardoni, personagem de Caroline Abras, que o auxilia na investigação daquilo que viria a ser um dos maiores casos de desvio e lavagem de dinheiro da história do Brasil.

Em uma coletiva de imprensa organizada pela Netflix nesta quinta, 15, o elenco se reuniu no Rio de Janeiro para debater política, atualidades e também contar um pouco mais sobre a produção. Discorrendo sobre os desafios de criar uma série baseada em um assunto tão polêmico e polarizador como o envolvimento político na corrupção, Padilha faz questão de afirmar diversas vezes que ele próprio não tem uma ideologia, e que não consegue se posicionar nem no viés esquerdista, nem defender a direita. “Defender um ou o outro é uma loucura pra mim, porque está claro que são todos culpados. Eu não compro nem a esquerda nem a direita. Nunca comprei”, ele comenta.

Na série, o personagem Ruffo investiga o que eles nomeiam como “mecanismo”, ou seja, toda a rede e engrenagens envolvidas em transações financeiras ilegais, e o produtor aproveita a nomenclatura para reforçar que “não dá para analisar o Brasil sem olhar para o mecanismo. Ele existe nos governos da esquerda e nos governos da direita. O mecanismo está subjacente aos dois polos neste país. É um darwinismo ao contrário: a seleção dos piores”. O diretor acrescenta que a Operação Lava Jato, pano de fundo para todo o enredo da série, é um fenômeno histórico, e que ela tem a função de revelar erros. “Ela mesma tem erros, mas revela para nós que o mecanismo não tem ideologia. A direita no Brasil é um horror, e infelizmente a esquerda também.”

Apesar de retratar políticos e policiais, e abordar um mundo de burocracia investigativa do qual uma parcela não muito grande dos espectadores faz parte, é fácil se identificar com os personagens. Todos eles, apesar do peso instaurado pelos respectivos papéis na trama, são totalmente humanos. Selton Mello explica que o delegado Ruffo “tem um lado de lutar contra esse mecanismo, obsessivamente, mas tem também o lado cidadão, e é através dessa parcela que o público se identifica”. É exatamente nesse ponto que o antagonista Roberto Ibrahim, mesmo envolvido em um enorme escândalo de lavagem de dinheiro, se torna tão real, e até mesmo carismático. Ele não é retratado para ser odiado e crucificado pelos espectadores. É um homem, mas que tomou decisões erradas. Ruffo e Ibrahim têm uma história juntos, que antecede as boas ou más decisões de cada um. Mesmo com um passado um tanto quanto parecido e tendo trilhado caminhos bem similares, cada um acaba por seguir um rumo (caminhando para as duas extremidades da lei), levantando um questionamento sobre escolhas e aquilo que pode corromper um homem. Tudo isso é possível sentir através da escrita sensível de Elena Soarez que, segundo o ator Enrique Diaz, conseguiu desenvolver entre o protagonista e o antagonista uma relação do tipo “Caim e Abel com Tom e Jerry”.

Padilha e Elena reafirmam que, por mais que muitas situações pareçam absurdas e calcadas apenas na ficção, a série é baseada em fatos reais e conta uma história real que, de certo modo, ainda não tem um desfecho. Ainda assim, a roteirista admite que “a maior dificuldade foi balancear ficção com realidade, política com entretenimento”. O esforço foi bem-sucedido: apesar do tom sério e de denúncia, por diversas vezes os episódios fazem o espectador rir, mesmo que seja de nervoso, frente à situação que os personagens (e consequentemente os próprios brasileiros) vivem.



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