Imprensa/Grupo Estado Islâmico –
Artigo publicado em 13 de Novembro de 2015 –
Atualizado em 13 de Novembro de 2015
Ofensiva contra Sinjar coloca Estado Islâmico na defensiva, dizem jornais
Membros das forças peshmergas reunidas nas proximidades da cidade de Sinjar REUTERS/Ari Jalal
A ofensiva dos peshmergas curdos contra Sinjar é um dos destaques da imprensa francesa nesta sexta-feira (13). A invasão dessa cidade do norte do Iraque pelo grupo Estado Islâmico em agosto de 2014 causou comoção mundial e foi determinante para que o presidente norte-americano, Barack Obama, decidisse comandar uma coalizão internacional para enfrentar os jihadistas.
A invasão foi uma ação brutal, classificada como "tentativa de genocídio" pela ONU, em que não faltaram estupros, assassinatos sumários e escravização sexual de mulheres yazidis. Essa minoria de língua curda sempre recusou a conversão ao islã e, por isso, é considerada herege pelo grupo ultrarradical.
Do ponto de vista estratégico, a tomada de Sinjar significa um enorme golpe contra os jihadistas, porque ela corta a principal rota de abastecimento do Daesh, como a organização é conhecida em árabe, entre suas duas autoproclamadas capitais: Raqqa, na Síria, e Mossul, no Iraque.
Por isso, o título da matéria do Libération é "O Estado Islâmico na defensiva". Esse ataque, realizado por 7,5 mil peshmergas com o apoio da força aérea da coalizão, "obriga o Estado Islâmico a lutar em diversas frentes", observa o jornal, em alusão à pressão exercida simultaneamente pelas forças do regime Bashar al-Assad, amparadas por Rússia, Irã e Hezbollah.
Além disso, abre-se um caminho para a reconquista de Raqqa, que isolaria a organização jihadista. Mas, apesar de essa ser a principal vontade dos Estados Unidos, um ataque contra a cidade síria não está nas prioridades das forças curdas. É preciso lembrar que os curdos lutam não pela ampliação de seu território, mas por autonomia.
Eles querem defender o Curdistão, conhecido também como Rojava, e Raqqa não faz parte de seu território. Por isso, uma fonte curda entrevistada pelo diário progressista afirma que "por enquanto, o objetivo é Sinjar. Depois, retomamos os campos petrolíferos de al-Hol e Jarablus, na fronteira turca. Só depois disso, nos preocuparemos com Raqqa". Jarablus é fundamental porque permitiria aos curdos unificar seu território, uma possibilidade que a Turquia combate a todo custo.
Divisão curda
A divergência não está somente nas prioridades da ofensiva, mas também dentro do próprio exército curdo, afirma Le Figaro. O jornal lembra que, na época da tomada brutal de Sinjar, os peshmergas, que hoje tentam retomar a cidade, fugiram, abandonando os yazidis à própria sorte.
Quem fez o resgate de parte da população foram militantes do PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão. O PKK, classificado como terrorista pela Otan e pelos Estados Unidos, não participa dessa operação, mas algumas brigadas yazidis formadas nas linhas do partido, sim.
Foi por causa das divergências entre essas duas forças curdas – além de problemas meteorológicos – que o ataque contra Sinjar demorou várias semanas para acontecer. Por isso, o jornal observa que, na cidade e nos seus arredores, as fotografias do líder preso do PKK, Abdullah Ocalan estão por toda parte.
Para um especialista entrevistado pelo Figaro, a retomada de Sinjar é a oportunidade para o PDK, o Partido Democrático do Curdistão, ligado aos peshmergas, reconquistar seu lugar entre a opinião pública curda. As questões que se colocam são: e depois da retomada? Quem controlará a área? Quem colherá os louros da vitória? Perguntas que, por enquanto, é melhor evitar, conclui o jornal.