Costa do Marfim: Simone Gbagbo ilibada
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Publicado a 29-03-2017
Simone Gbagbo, foi ontem ilibada de crimes contra a humanidade. A ex-primeira dama da Costa do Marfim estava a ser julgada por crimes durante a crise pós-eleitoral de 2010 e 2011 que fizeram mais de 3000 mortos.
ISSOUF SANOGO / AFP
Simone Gbagbo, foi ontem ilibada de crimes contra a humanidade. A ex-primeira dama da Costa do Marfim estava a ser julgada por estar por trás de crimes cometidos durante a crise pós-eleitoral de 2010 e 2011, que fizeram mais de 3000 mortos. As partes implicadas têm agora 60 dias para recorrer da sentença.
Depois da acusação ter pedido prisão perpétua para Simone Gbagbo, a sentença foi ontem foi acolhida com surpresa na Costa do Marfim.
"O júri, na sua maioria, declara que Simone Gbagbo não é culpada dos crimes que lhe são atribuídos, pronuncia a sua ilibação e ordena que ela seja imediatamente posta em liberdade se não estiver a ser retida por outros casos", afirmou o juíz Kouadjo Boiqui, presidente do Tribunal Penal de Segunda Instância.
Gbagbo, de 67 anos, estava a ser julgada pela sua implicação presumível num bombardeamento ao mercado de Abobo (um bairro de Abidjan, favorável a Alassane Ouattara, rival do seu marido às eleições presidenciais de 2010) mas também por estar por trás de mílicias que organizaram vários ataques.
O advogado de Simone Gbagbo, Rodrigue Dadjé, afirmou que estava apenas relativamente surpreendido. "Se estivéssemos num processo normal, com as condições normais de equidade e de transparência, onde os actores dos feitos tivessem vindo explicar-se sobre os crimes que cometeram e sobre quem os tinha mandatado, a senhora Gbagbo teria sido ilibada", disse Dadjé.
Entidades denunciam sentença
No entanto, são várias as entidades que estão a denunciar a sentença. A Human Rights Watch afirma nomeadamente que a ilibação "mostra as numerosas irregularidades que mancharam o processo e deixa sem resposta as questões relativamente à implicação de Simone Gbagbo nos crimes brutais perpretados durante a crise pós-eleitoral".
Já Issiaka Diaby, presidente do colectivo de vítimas da Costa do Marfim, afirmou que o processo mostra que "a Costa do Marfim não tem nem a capacidade nem a vontade de restabelecer a dignidade das vítimas".
De realçar também que Simone Gbabo está a ser perseguida por crimes contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional (TPI). O órgão legislativo já pediu a extradição da ex-primeira dama, ainda que o governo da Costa do Marfim se recuse a fazê-lo.
Além disso, Simone Gbagbo está actualmente a cumprir uma pena de 20 anos em Abidjan por ter "posto em perigo a segurança do Estado".
De relembrar que a crise pós-eleitoral na Costa do Marfim durou 5 meses (entre Novembro de 2010 e Maio de 2011) e fez mais de 3000 mortos. Na altura, os dois candidatos da segunda volta, Laurent Gbagbo e Alassane Ouattara, reclamavam ambos a vitória, o que desencadeou uma onda de violência no país. Laurent Gbagbo, marido de Simone Gbagbo, está actualmente a ser julgado no TPI por crimes contra a humanidade.
Confira aqui a crónica de Tiago Almeida sobre o assunto.
Crónica de Tiago Almeida
29/03/2017
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Fonte: Rádio França Internacional