Argentina/Debate –
Artigo publicado em 16 de Novembro de 2015 –
Atualizado em 16 de Novembro de 2015
Debate presidencial na Argentina marca última chance para governo evitar derrota
O candidato governista, Daniel Scioli (e), e seu opositor, Mauricio Macri,durante debate na noite deste domingo (15), em Buenos Aires. REUTERS/Marcos Brindicci
A uma semana da disputa eleitoral mais acirrada da história argentina, os dois candidatos que concorrem neste segundo turno participaram de um inédito debate presidencial. Foi o primeiro encontro na Argentina com todos os candidatos presentes e foi também a última chance para o candidato da presidente Cristina Kirchner tentar reverter uma tendência de derrota apontada por todas as sondagens.
Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
O debate começou com um silêncio em homenagem às vítimas dos atentados em Paris. Durante uma hora e meia, o candidato governista, Daniel Scioli, apostou na chamada "campanha do medo", que consiste em advertir que a vitória do opositor Mauricio Macri, no próximo domingo, vai significar um cataclismo econômico: ajuste, desvalorização, recorte nos salários, endividamento e o fim dos programas sociais.
"Sinto que suas ideias, suas propostas e suas decisões são realmente um perigo para o conjunto da sociedade", disparou Scioli.
"Quem tem medo são vocês que abusaram do poder e não querem perder os privilégios", retrucou Macri.
Macri, por sua vez, procurou mostrar Scioli como a continuidade do pior das políticas de Cristina Kirchner: manipulação de índices, inflação, recessão e aumento da violência, principalmente do tráfico de drogas.
"Daniel, você não é a mudança, você escolheu, e decidiu ser a continuidade", remarcou Macri.
"Por trás da mudança, há uma grande mentira. A palavra mudança pode entusiasmar, motivar. Mas quando se retira o véu da mudança, aparece isso: o livre mercado, o ajuste, a desvalorização e o endividamento", insistiu Scioli.
"Por que você não se preocupou antes com a inflação? A sua posição é autoritária, cínica e conservadora", atacou Macri. "Por que não fizeram, nos últimos dez anos de governo, as coisas que agora você diz que vai fazer?', provocou.
Em matéria de Direitos Humanos, o candidato opositor, Mauricio Macri, ainda perguntou diretamente se Daniel Scioli se comprometeria em suspender a Venezuela do Mercosul caso os presos políticos na Venezuela não fossem libertados. Daniel Scioli não respondeu nem essa nem nenhuma pergunta sensível.
"Vou pedir, perante os abusos que houve na Venezuela, os presos políticos e a participação de militares no governo que seja exercida a cláusula democrática (do Mercosul) e que a Venezuela seja suspensa (do bloco) e quero saber se você se compromete com o mesmo", pressionou Macri.
Luta de boxe
Se o debate fosse uma luta de boxe, Macri teria ganho a primeira metade enquanto Scioli conseguiu encurralar o adversário na segunda. As sondagens imediatas com telespectadores indicavam uma vitória de Macri.
No entanto, a democracia se sagrou como a maior vitoriosa. Foi a primeira vez na história em que o país assistiu a um debate com todos os candidatos. Na Argentina, a cultura política levou sempre o candidato líder nas sondagens a não aceitar o debate. No primeiro turno, por exemplo, Scioli não participou do primeiro debate presidencial do país que compartilhava com a República Dominicana a marca de únicos sem nunca terem tido um debate na América Latina.
O confronto foi a última chance para o candidato governista tentar captar parte dos 11% de indecisos e de 8% dos que dizem ainda poder mudar o voto. A audiência chegou a 53 pontos, índice próximo à final entre Argentina e Alemanha no Mundial de Futebol do ano passado.
Reviravolta
O jogo se inverteu na disputa presidencial argentina. Agora, o favorito para se tornar presidente no próximo domingo, segundo as sondagens, é o candidato, Mauricio Macri, quem administra uma vantagem capaz de pôr fim ao chamado "kirchnerismo" depois de 12 anos no poder.
As últimas sondagens indicam que a campanha do medo não tem tido efeito. Mauricio Macri tem uma vantagem entre oito e dez pontos, segundo a sondagem. A Management & Fit, por exemplo, indica que Macri seria eleito com 52% dos votos e que Scioli chegaria a 43,7%.
A campanha eleitoral será retomada hoje depois de uma suspensão de 48 horas devido à comoção com os atentados terroristas em Paris.