Alemanha/Espionagem –
Artigo publicado em 12 de Novembro de 2015 –
Atualizado em 12 de Novembro de 2015
Serviço secreto alemão espionou chanceler francês, Laurent Fabius, afirma imprensa
O ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius pode ter sido espionado pelos serviços secretos da Alemanha. REUTERS/Benoit Tessier
A rádio pública alemã RBB revelou que os serviços secretos da Alemanha espionaram o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius. Sem revelar a fonte da informação, a RBB também indicou que, além de Fabius, foram colocados sob escuta o Tribunal Internacional da Justiça de Haia, a Unicef, a Organização Mundial da Saúde e o FBI, além de um diplomata alemão e várias empresas europeias. A comissão parlamentar que supervisona as agências de inteligência vai se reunir nesta quinta-feira (12) para discutir o assunto.
Em Malta, onde acompanha o presidente francês François Hollande na cúpula entre África e Europa sobre a crise migratória, o chefe da diplomacia francesa classificou a situação de "muito desagradável" e declarou que vai pedir explicações ao governo alemão. Fabius, Holande e a chanceler Angela Merkel chegaram a se encontrar na quarta, um pouco antes das revelações sobre a espionagem. A imprensa alemã acredita que Merkel não estaria a par das informações.
Fabius disse à imprensa que conversou com a chefe do governo alemão, que acredita que a espionagem foi "indireta" e não o visava especificamente. Ele afirmou que agora os dois devem se reunir para tratar do assunto. "Pedi ao embaixador alemão que se informe de maneira mais precisa porque, de um jeito ou de outro, é bastante desagradável ser colocado sob escuta", afirmou o ministro.
Pela legislação alemã, a chancelaria é encarregada do serviço secreto, o que aumenta o mal-estar. Martin Schaefer, porta-voz do ministério alemão das Relações Exteriores, estimou na quarta-feira que estas revelações não devem abalar a relação entre Fabius e seu colega alemão, Frank-Walter Steinmeier.
Um dos principais alvos das espionagens seria, segundo a rádio, o diplomata alemã Hansjorg Haber, que dirigiu a missão de observação da União Europeia na Geórgia entre 2008 e 2011 e hoje é chefe da missão da União Europeia na Turquia. O caso é particulamente sensível, já que a constituição alemã proíbe a espionagem de cidadãos do país.
Investigação
Mas a espionagem industrial, se confirmada, também deve ter consequências. Entre as empresas espionadas estaria a fabricante americana de armamentos Lockheed, além da rádio Voice of America, financiada pelo governo americano. De acordo com a rádio, o BND, serviço alemão de inteligência, possuía uma lista com 900 páginas de números de telefone, endereços de e-mail e IPs, que foi entregue aos deputados alemães membros da comissão de inquérito aberta para esclarecer as operações de vigilância.
No mês passado, o ministro alemão da Justiça, Heiko Maas, pediu a realização de controles mais rigorosos do serviço secreto alemão, que teria espionado, inclusive, embaixadas de países aliados sem autorização sequer do governo alemão. A imprensa tem revelado com frequência a extensão da espionagem externa dos serviços de inteligência alemães contra países aliados, mas o governo se recusa a comentar as revelações da imprensa, delegando a tarefa à comissõa de inquérito.
Os casos lembram o escândalo da espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA), dos Estados Unidos, deflagrado em 2013. A época, chefes de Estado como a presidenta brasileira Dilma Rousseff e a própria chanceler Angela Merkel foram espionadas pelos norte-americanos. Merkel condenou como "inaceitável" a "espionagem entre amigos" e a Dilma cancelou uma visita de Estado a Washington.