Abertura das Olimpíadas teve criatividade, emoção e vaias a Michel Temer

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Abertura das Olimpíadas teve criatividade, emoção e vaias a Michel Temer

Por

Elcio Ramalho

mediaUm dos momentos da cerimônia de abertura da Rio 2016
Foto: RFI Brasil

Um espetáculo com pouco luxo, mas com muita inventividade e momentos carregados de forte emoção. Assim foi a cerimônia de abertura da 31 ª edição dos Jogos Olímpicos na noite deste sábado (5) no estádio Maracanã, no Rio de Janeiro. O presidente interino Michel Temer foi vaiado ao declarar a abertura oficial da Rio 2016. A honra de acender a pira olímpica coube ao maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima, escolhido na última hora após a desistência de Pelé.

Previsto no roteiro original distribuído para a imprensa, a cerimônia não fez menção à presença do presidente interino Michel Temer. Apenas o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, foi citado no início da apresentação que durou mais de três horas e foi vista por um público estimado em cerca de 3 bilhões de pessoas em todo o mundo.

No Maracanã, 38 chefes de Estado e de governo, entre eles o francês François Hollande e o italiano Matteo Renzi, acompanharam uma cerimônia que teve como pontos altos o desfile de Gisele Bündchen ao som de Garota de Ipanema e o grande baile no gramado animado por Jorge Benjor. Isso antes da chegada das delegações, do desfile de atletas e medalhistas olímpicos brasileiros que receberam uma grande ovação do público e do acendimento da pira olímpica mantido sob segredo até o último minuto.

Festa da diversidade brasileira

No palco montado no gramado do Maracanã, a festa de abertura contemplou três temas: “gambiarra”, em referência ao jeito brasileiro de superar situações difíceis, a beleza da arte produzida no país, simbolizada pelo trabalho de Athos Bulcão com um gráfico feito de 250 folhas de papel metálico, e a busca pela paz e preservação do planeta.

A contagem regressiva que marcou o início da cerimônia foi um movimento de almofadas gigantes que simularam uma contagiante batucada. A sequência foi a entrada de um grupo de atletas cobertos com a bandeira brasileira, em referência ao costume de esportistas do país ao celebrar vitórias. A bandeira oficial é carregada pelo Comando da Polícia Ambiental para reforçar a mensagem de proteção das florestas do país. Com um violão acústico, Paulinho da Viola cantou parte do hino nacional.

Momento da cerimônia que fez referência à chegada dos escravos ao Brasil.
REUTERS/Ivan Alvarado

O espetáculo concebido por Andrucha Waddington, Daniela Thomas e Fernando Meirelles deu uma volta no tempo ao lembrar com efeitos especiais os primórdios do planeta. Foi o ponto de partida para mostrar a evolução da ocupação do território brasileiro. Primeiro com a presença das diversas populações indígenas e depois com a chegada dos povos que formaram a base da população brasileira.

Os colonizadores portugueses entraram no palco com caravelas simulando a viagem de descoberta da nova terra. Depois vieram os escravos africanos, os árabes e povos asiáticos, na origem de outras ondas de imigração da história do país.

No gramado, imagens e bailarinos mostraram o processo de urbanização e a face contemporânea do Brasil, embalados pela música “Construção” de Chico Buarque. Um dos grandes nomes da história do Brasil, Santos Dumont, o Pai da Aviação, foi lembrado com um sobrevoo pelo Maracanã com uma réplica de seu famoso avião, 14 Bis.

A primeira grande reação do público nas arquibancadas veio com a entrada de Gisele Bündchen desfilando na passarela imaginária como a “Garota de Ipanema”, famosa música de Tom Jobim tocada pelo neto do compositor, Daniel. E, na sequência, o show de ritmos e danças que ganharam os subúrbios e favelas da Cidade Maravilhosa como o funk, o “passinho” e o pagode de Zeca Pagodinho.

Gisele Bündchen desfilou no Maracanã ao som de "Garota de Ipanema", de Tom Jobim.
REUTERS/Damir Sagolj

Outro momento forte do espetáculo foi proporcionado por Jorge Benjor que fez centenas de dançarinos dançarem “País Tropical” no palco transformado em um imenso salão de baile. O público cantarolou das arquibancadas o final da apresentação de um de seus maiores sucessos.

A alegria logo foi abafada pelo alerta sobre o aquecimento do planeta que ameaça a vida na Terra. Nos telões, imagens mostraram que se não for contido, o efeito estufa pode provocar o desaparecimento de várias cidades como Amsterdam, Dubai, cidades da Flórida, na África e atingir também o Rio de Janeiro.

O show, que apostou na criatividade e pouca tecnologia, reforçou a mensagem de que é preciso preservar o planeta, que está ameaçado pela alta das temperaturas. Daí a ideia de oferecer na entrada das delegações uma árvore para os atletas a plantarem simbolicamente em estruturas de vidro. Essas mudas terão como destino o Parque Radical, uma das instalações dos Jogos, e formarão a Floresta dos Atletas, um dos legados ambientais do evento.

Time dos refugiados foi destaque no desfile das delegações

A entrada dos atletas foi a oportunidade de ver as grandes estrelas dos Jogos desfilarem como porta-bandeiras de seus países como os tenistas espanhol Rafael Nadal e britânico Andy Murray, o judoca Teddy Rinner e o nadador americano Michael Phelps, que deve participar de sua última Olimpíada.

As delegações da Itália, França, Japão e dos Estados Unidos estiveram entre as mais aplaudidas. O time de refugiados, que pela primeira vez participa dos Jogos representando os 65 milhões de refugiados e deslocados no mundo, foram acolhidos com entusiasmo pelo público e abriram a passagem para a delegação brasileira, que entrou com a medalha de bronze do pentatlo Yane Marques como porta-bandeira. Os atletas desfilaram ao som de uma das músicas mais associadas ao país internacionalmente: Aquarela do Brasil, de Ari Barroso.

Desfile da delegação brasileira que teve Yane Marques como porta-bandeira.
REUTERS/Stefan Wermuth

O presidente do COB e da Rio 2016, Carlos Nuzman, deu as boas-vindas aos atletas e às 206 delegações e arrancou aplausos ao dizer: “O melhor lugar do mundo agora é aqui”. Em seu discurso, Thomas Bach se referiu às dificuldades da crise no Brasil e disse que a paixão do país pelo esporte é uma fonte de inspiração para os atletas e o COI. Ele também dirigiu uma mensagem particular ao time de refugiados composto por 10 atletas: “A presença de vocês é uma mensagem de esperança para o mundo”. “Vocês estão contribuindo para o enriquecimento da nossa união e diversidade”, acrescentou.

Presidente vaiado

Poupado no início da cerimônia, o presidente interino Michel Temer foi finalmente anunciado para fazer a declaração oficial de abertura da Rio 2016. No entanto, quando começou a falar, foi vaiado pelas arquibancadas e o protesto abafou suas últimas palavras.

O momento de grande constrangimento foi logo superado com a entrada de uma equipe de medalhistas olímpicos trazendo a bandeira do Comitê Olímpico. Marta da seleção brasileira de futebol foi ovacionada e o ex-jogador Oscar teve seu nome celebrado nas arquibancadas. O velejador Robert Scheidt foi o encarregado de fazer o juramento do atleta.

O trio Caetano Veloso, Gilberto Gil e Anitta embalou o público com a música Isto aqui, o que é?, enquanto escolas de samba atravessavam a passarela no meio dos atletas.

Vanderlei Cordeiro de Lima acendeu a pira olímpica.
REUTERS/Ivan Alvarado

Muitos competidores já tinham deixado o gramado na etapa final e mais aguardada da cerimônia. Um revezamento de grandes nomes do esporte brasileiro marcou a chegada da tocha olímpica ao estádio.

Primeiramente ela foi conduzida pelo ex-tenista Gustavo Kuerten, três vezes campeão de Roland Garros, que entrou no Maracanã sob aplausos calorosos. Ele a entregou para a ex-jogadora de basquete Hortênsia, que depois de uma breve corrida passou a flama para o ex-maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima, medalha de bronze nas Olimpíadas de Atenas, em 2004. Com a desistência de Pelé, que alegou problemas de saúde, o paranaense foi escolhido para acender a pira olímpica, celebrada com uma queima de fogos de artifício.

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Fonte: Rádio França Internacional

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