The Soft Pink Truth – Do You Want New Wave or Do You Want The Soft Pink Truth? (2004)
Drew Daniel é uma das metades do duo eletrônico Matmos, que se tornou mais conhecido por trabalhar ao lado da esquimó Bjork que por seus próprios êxitos (o último álbum deles é de 2020, e caso desconheça comece pelo primeiro e homônimo, lá de 97). Em algum ponto do início dos anos 2000, Daniel foi intimado pelo amigo e também músico e produtor Matthew Herbert a produzir um disco de house; algo do tipo ‘duvido que você consiga’. E assim nascia o projeto The Soft Pink Truth.
Em 2003, já sob esse pseudônimo, o desafiado Drew lançou (o sensacional) Do you party?, um álbum de house torto e techno minimalista, absolutamente fraturado e fora da curva. Tão feliz com o disco quanto eu e todos que o escutaram, decidiu seguir com o Soft Pink Truth em paralelo ao Matmos, e já no ano seguinte chegou com seu segundo trabalho, primeiro de uma série na qual segue até hoje.
Do you want new wave or do you want The Soft Pink Truth?, à primeiras audição de quem não é ligado à música como um todo, é apenas um ótimo disco eletrônico, dançante até o último sulco, altamente rebolável e perfeito para fritações e afins. Porém uma lida atenta em seu título e nos nomes das faixas revela que há algo mais ali. Afinal, “Do you want new wave or do you want the truth?”, frase que Daniel ‘alterou levemente’ (risos) para intitular o álbum é também uma canção do seminal Minutemen; “Out of step”, sexta música do disco, poderia ser do Minor Threat; “Real shocks”, do Swell Maps; “Homo-sexual, do Angry Samoans… Então ele fez versões dance de faixas originalmente punks? Elementar, meu caro Watson.
Subvertendo a lógica macho-man-testosterona-cotovelos-em-riste-vou-chutar-sua-bunda do universo punk (e roqueiro em geral), o Soft Pink Truth trocou os três acordes e o ritmo 4×4 por blips & blóins e beats quebrados, transformando a roda de pogo em uma pista fervida. Em comum, só a suadeira. Daniel segue em sua cruzada musical e política contra o machismo e outras formas de opressão indo de côveres de black metal a crust, alternando com trabalhos autorais, sempre com viés libertário. Um de seus álbuns de 2020, Am I free to go? (que traz as transversões eletrônicas do crust), teve o lucro das vendas revertido para o International Anti-Fascist Defence Fund. O cara é realmente foda!
Ouça alto e bora dançar em nome da liberdade!
Ou
Fonte: Pequenos Clássicos Perdidos