Tenho poucas certezas nesta minha vida besta, e duas delas são:
1) se este homônimo disco de estreia das Raincoats fosse lançado hoje, exatamente neste dia 15 de março de 2023, seria considerado um álbum desafiador, ‘fora da curva’.
2) se você o colocar para um hipster-indie-qualquer-porra escutar pela primeira vez e perguntar-lhe de quando é, ele responderá que saiu na semana passada junto ao novo álbum do Shame.
Porque este petardo que veio ao mundo nos primórdios da Rough Trade, em 1979, guarda em si toda a crueza e agressividade do punk e experiências extra-quatro acordes do pós-punk da época, mas assim como o debute do Television Personalities e alguns outros contemporâneos aponta em direção ao futuro, influenciando toda uma geração que nasceria nos próximos anos.
Dissonâncias, ritmos fraturados, acordeon, folk, tudo faz parte da receita anárquica de Gina Birch, Ana da Silva e cia. em Raincoats, o disco. Se hoje é natural essas e outras formas de crossover muito se deve a elas, que capturaram o espírito ‘faça você mesmo’ e o encarnaram num corpo sem forma definida que daria origem a algumas das coisas mais interessantes feitas no rock dali em diante.
Essencial!
Fonte: Pequenos Clássicos Perdidos