Pornography é o segundo disco do Cure que mais ouvi na vida, e também é o segundo num pódio imaginário com meus preferidos na longa carreira da banda. Só perde pro Disintegration, mais por razões emocionais que qualquer outra coisa.
Não foram poucas as sessões de audição de suas oito faixas, em casa, na casa de amigos, casos, desconhecidos ou em outros rolês aleatórios desde que, em algum ponto do começo dos anos 90, ele me atingiu pela primeira vez.
Assim como o já citado Disintegration, Pornography (e outros álbuns da mesma safra/estirpe) moldaram muito do meu caráter; o gosto pelo lado sombrio da vida e pela solidão, a tendência auto destrutiva, as drogas e o álcool, a melancolia – que mais tarde se tornaria uma depressão aguda e precisaria ser tratada -, enfim, todo o conteúdo do disco se enraizou em mim, para o bem e para o mal, e aqui ainda permanece, mas de outras formas.
Obviamente quem conhece a biografia do Cure sabe que à época das gravações deste trabalho a banda estava imersa em todas os características e situações citadas acima. Pornography era pra ser a obra definitiva, o grande ‘foda-se’ que todo junkie pensa em dar ao mundo antes de se despedir dele. Mas quis o destino que as coisas não saíssem como planejado.
Em primeiro lugar, após o lançamento do álbum Simon Gallup pediu as contas do hospício que havia se tornado o grupo (ele e Bob Smith saíram na porrada depois de um show na França. Voltaria dois anos depois), e com sua saída o Cure enveredaria por caminhos mais pop e iluminados – “The walk” é de 1983 -, algo como uma salvação pra quem não queria ser salvo.
Ademais, Pornography, que foi rechaçado pela crítica especializada quando saiu, se tornou uma das pedras fundamentais do rock gótico e atraiu ainda mais fãs para a legião dos Curados trevosos; e mais, ainda que em 82 nem Smith nem ninguém planejasse, o disco seria o primeiro da chamada ‘trilogia da depressão’, seguido por Disintegration (89) e Blood flowers (2000).
Resumidamente e sem maiores delongas, Pornography foi um momento angular na história do Cure e da vida de muita gente, mudando-as para sempre. E aí eu me incluo.
Essencial!
Fonte: Pequenos Clássicos Perdidos