Antes de começar este relato, um aviso: talvez ele não faça o menor sentido pra você. E tá tudo certo, a maioria das coisas escritas aqui não faz sentido pra ninguem além de mim, afinal isso aqui nada mais é que um fanzine 2.0. Dado o recado, vamos lá…
Neste momento estou escutando o Bingo entre uma lágrima e outra. Na verdade, estou desidratando. Não por causa das letras tristes do Colares, mas porque estou num dia especialmente emotivo e porque este primeiro disco do Cigarettes me leva direto ao tempo em que se formava a personalidade deste velho bobo que ainda hoje, beirando o meio século, ainda chora escutando música, lendo livros, assistindo a filmes ou peças de teatro.
Era anos 90, e havia um gueto em forma de universo povoado por seres estranhos, com suas camisetas listradas e cabelos de tigela (hahaha), esta última uma marca que nunca atingi, substituindo-a por uma invariável careca – e depois por um Black Power a Rob Tyner ou dreads a Adam Franklin, enfim, questões capilares não vêm ao caso.
Como eu disse, era anos 90, não havia internet, nem telefone eu tinha, então pra adentrar este universo-gueto de barulho e seres estranhos, era preciso ir a shows, comprar CDs ou fitas cassete, descolar fanzines xerocados e afins. E de alguma dessas formas, ou todas, não me lembro, conheci primeiro o Cigarettes, depois seu Bingo e “Under lights”, “Annabel Lee”, “Naturally sad”, “Friendship”, canções que aprendi a cantar há tanto tempo e que ainda hoje estão aqui, me levando aos sorrisos e lágrimas misturados.
A mesma midsummer madness que lançou Bingo em 97 fez há pouco uma campanha de financiamento coletivo para prensá-lo em vinil, celebrando seus 25 anos, campanha a qual não aderi porque a terra redonda girou e hoje há dois pequenos seres estranhos e barulhentos que dependem de mim.
E tá tudo certo, afinal a bolacha saiu do forno e neste exato momento alguém também deve estar experimentando a mesma enxurrada de emoções que eu enquanto Colares canta “You know the time is runinng fast over me and over you…”
Há histórias que o tempo não apaga. Esta é uma delas
Fonte: Pequenos Clássicos Perdidos