Hoje enquanto vinha pro trabalho estava ouvindo A trip to Marineville, a estreia dos insanos Swell Maps, pensando em escrever uma meia dúzia de palavras aqui no blogue sobre ele. Enquanto rascunhava mentalmente qualquer coisa da qual não me lembro, alguém puxou meu braço.
Pra quem não é da zona sul de SP, especificamente de Santo Amaro, explico: há meninas e meninos espalhados pelo Largo Treze, abordando transeuntes do sexo oposto, dizendo ‘posso te fazer uma proposta?’. Normalmente nem tiro os fones, mas hoje, após uma manhã conturbada, meu humor melhorou um pouco à tarde e decidi, como de costume, ser sarcástico: ‘Aceito ouvir sua proposta se você aceitar ouvir por dois minutos o que tô escutando’.
Era “Gunboats”, décima segunda faixa do álbum em questão e uma viagem desgraçadamente ruidosa de oito minutos. A música estava perto do final, e quem conhece sabe que não é exatamente uma audição agradável. A guria pegou os fones, enfiou nos ouvidos, e menos de 15 segundos depois os tirou e disse ‘afe moço, não dá pra ouvir isso não. Isso não é música, é barulho’. Educadamente, respondi que não poderia saber de sua proposta. ‘Trato é trato’.
O fato é que há 40 anos, Nikki Sudden e Epic Soundtracks – o núcleo criativo do Swell Maps – fizeram, sem tirar nem por, precisamente o que a moça das propostas apontou: não-música e barulho. Porque A trip to Marineville começa parecendo um disco de “punk básico” mas vai se tornando qualquer outra coisa torta, experimental e tempestuosa. Pode chamar de pós-punk, no wave ou dar outro rótulo, não importa.
Porque se no ano seguinte a banda londrina daria o passo definitivo nesse caminho caótico com Jane from occupied Europe, aqui plantaram as sementes que germinariam e dariam frutos podres em vários lugares do globo, influenciando de Nick Cave a Sonic Youth, de Pavement a Animal Collective, entre muitos e muitos outros malucos.
Um álbum para poucos. Mas essencial!
Fonte: Pequenos Clássicos Perdidos