Hoje enquanto vinha pro trabalho decidi escutar a recém gravada nona edição da versão radiofônica deste blogue, como sempre faço com todas os episódios antes deles irem ao ar (quintas, 21h na Internova; sextas, 19h na Rádio Armazém e terças, 21h na Electric Radio). E graças a este hábito, cá estamos.
Porque abri o programa com “Ogum” do disco póstumo Ascensão, da saudosa Serena Assumpção, filha de Itamar, irmã de Anelis e uma das mais belas vozes femininas da música brasileira. Nem terminei de ouvir o citado episódio do PCP, fui pego pelo Ori, corri pro Bandcamp pra procurar o disco e de repente eu já estava no Xirê de Serena abrindo a gira com “Exu”. Como deve ser.
Pra quem desconhece o álbum e sua autora, Ascensão saiu pelo Selo Sesc em julho de 2016, quatro meses após o desencarne de Serena. É um mergulho no universo musical e espiritual da primogênita de Itamar; levou seis anos pra ficar pronto, traz muitas participações (de sua irmã caçula, Karina Buhr, CéU, Tulipa Ruiz e Juçara Marçal pra citar só algumas), e é a filha de santo e seus convidados imersos na fé nos sagrados Orixás, transformando essa fé em canções que levam a uma jornada pela espiritualidade ancestral herdada por nós das nações africanas – mesma jornada por terreiros percorrida antes pelos Tincoãs e por Clara Nunes.
Musicalmente, Ascensão é obviamente rico em percussões, mas também em harmonias e arranjos cristalinos como os de “Iemanjá”, que aliados ao canto igualmente límpido de Serena, neste exato momento, me levam às lágrimas.
Às vezes não somos nós que escolhemos o que escutar, é a música que nos escolhe, e num dia difícil como o de hoje só posso agradecer por ter sido escolhido por este disco. Nada é por acaso…
Odoyá, mãe das águas. Axé!
Fonte: Pequenos Clássicos Perdidos