O Ruts, em vários sentidos, é uma das bandas mais foda e menos ouvidas da primeira geração do punk inglês. Surgiu em algum ponto no início de 1978 em Londres, e já no mesmo ano lançaram o primeiro single, tocaram no programa do mestre John Peel e se uniram ao Rock Against Racism, assumindo uma postura combativa contra a crescente onda neo-nazi/fascista.
Essa posição política norteia grande parte das letras de seu primeiro disco, The crack, lançado no ano seguinte ao seu nascimento pela Virgin. Só isso muito provavelmente já o tornaria no mínimo necessário, afinal sabemos da importância de música politizada – ainda mais em tempos de ódio – mas além das palavras o que se ouve nas 12 faixas do álbum é uma miscelânea de influências que o leva além dos básicos quatro acordes do punk rock.
Muito do reggae e ska entranhados em outras bandas contemporâneas ao Ruts são uma das forças de The crack, como já se percebe na abertura com “Babylon’s burning” (e, claro, em “Jah war”). Mas ouvir “Savage circle”, por exemplo, é vislumbrar um crossover que só se tornaria comum da década seguinte em diante; e no meio dessa mistura há também espaço para new wave/pós-punk à Police, riffs de hard rock acelerado, enfim, temos aqui um caldeirão com conteúdo altamente explosivo.
Uma pena que em 1980 o vocalista do quarteto, Malcolm Owen, tenha morrido por overdose de heroína. O grupo seguiu em frente reformulado e reestruturado como Ruts D.C., mas aí passaram a reescrever sua história musical de outras formas, por aqui consideradas menos instigantes.
Fiquemos então com o poder de The crack, este sim um disco essencial. Ouça alto!
Fonte: Pequenos Clássicos Perdidos