Pyrolator – Ausland (1981)

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O alemão Kurt Dahlke é daqueles raros casos do sujeito que vislumbra o futuro e depois se insere no mesmo futuro que vislumbrou. Quase um paradoxo temporal ao contrário (risos). Produzindo música eletrônica sob a alcunha Pyrolator, o cara atravessou as décadas de 1970, 80, 90, 00, 10 e 20, começando com os dois pés atolados nas experimentações que germinariam (entre outras coisas) no industrial oitentista e décadas depois chegando ao minimal techno nascido em Detroit e popularizado por seus conterrâneos da Kompakt.

Antes de assumir a persona Pyrolator, Dahlke tocou com o seminal DAF, mas logou pulou fora para formar o Der Plan; enquanto isso acontecia (em 1979), fundou com os parceiros da nascente neue deutsche welle o selo Ata Tak, viajou os EUA de cabo a rabo, tomou contato com os malucos da Los Angeles Free Music Society que abriram sua cabeça – talvez com a ajuda de alucinógenos – para um oceano de possibilidades onde os alienígenas Residents dividiam tranquilamente o mesmo espaço com John Cage, ayahuasca, pop dançante de sintetizadores, Kraftwerk, noise, música latina, cocaína e qualquer outra coisa. Assim nascia o produtor Pyrolator, e em meio a este caos vinha ao mundo também seu primeiro disco, o obviamente caótico Inland, que poderia servir tranquilamente como trilha sonora para o fim do mundo. Mas não é ele que roda por aqui hoje, porque não me sinto apocalíptico o suficiente. Adiantemos o tempo em dois anos e chegaremos à bola da vez, Ausland, de 1981.

Aqui o cara catou o grau das fusões malucas absorvidas no rolê pela terra do tio Sam, diminuindo o desencanto, os barulhos de furadeira e afins de seu debute, mantendo parte da aura de viagem espacial e o sarcasmo e adicionando batidas, linhas de synth bem mais amistosas e vocais (do spoken word a um espanhol surreal), disco music, easy listening e o escambau para criar – com uma mãozinha ou duas de seus amigos do cast da Ata Tak – uma mistureba única que de lá pra cá segue reverberando por aí (basta sacar o eletro/synth pop dos 80’s, algumas latinidades modernosas, o crossover de gente como Matias Aguayo, etc).

Dahlke seguiu por este caminho meio torto entre o pop e as experimentações/avant garde durante toda a primeira metade da década perdida (em 1984 lançou Wunderland, cheio de sons de natureza e orquestrais sintetizados, soando quase como trilha sonora de senho animado; um ano depois produziu em parceria com Arnd Kai Klosowski o visionário Hometaping Is Killing Musictodo construído com samples), até que em 87 convidou a cantora Susan Brackeen e mergulho de cabeça no pop com Traumland. Tudo enquanto seguia com o Der Plan. Prolificidade é apelido, e isso, meus caros, é só uma parte do que ele fez durante os 80’s.

Da década seguinte em diante Kurt seguiu sem parar até que nos anos 2000 entre muitos, mas muitos trabalhos, estava em meio ao techno (minimalista) que tanto influenciou desde o final dos 70’s com seus diversos projetos. Mas todos esses capítulos que compreendem ao menos mais três décadas de labuta (!) ficam pruma próxima história; pra hoje o lance é sacar este momento angular da carreira de Pyrolator chamado Ausland.

Ouça no talo!

 

Fonte: Pequenos Clássicos Perdidos

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