Os Tincoãs – Os Tincoãs (1973)
Quando Mateus Aleluia substituiu Erivaldo e em 1963 se juntou aos conterrâneos Heraldo e Dadinho no grupo Os Tincoãs, provavelmente não sabia que se tornariam um capítulo à parte na música brasileira.
O trio começou sua caminhada no início dos anos sessenta em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, e interpretando boleros populares à época gravaram com a primeira formação apenas um disco, Meu último bolero, lançado em 1962. Não decolaram, Erivaldo decidiu tocar sua vida e começava ali a história real d’Os Tincoãs.
Aleluia, hoje um senhor de 79 anos, chegou com seu atabaque como o Ogã necessário para fazer a gira girar, e uma década após sua chegada o grupo lançou EMI-Odeon seu segundo e homônimo álbum, e aí voltamos ao primeiro parágrafo deste pequeno texto: ali, em 1973, se escrevia um novo e inspirado capítulo na história da música tupiniquim.
Ao violão e às delicadas harmonias vocais somaram-se percussão e toda a ancestralidade africana presente fisicamente na região do Recôncavo, que entre os séculos XVII e XVIII – período de intensa mineração de ouro e produção de cana-de-açúcar – ‘recebeu’ mais de 40 mil escravos africanos, que junto à suas dores trouxeram a riqueza cultural do Candomblé. O axé de Aruanda era incorporado à musicalidade d’Os Tincoãs, que após uma longa pesquisa pelos barracões locais e muitas horas escutando e gravando o canto de Dona Ledinha de Yansã (Zuleide da Paixão, Iyalorixá que vendia acarajé em frente ao bar de Dadinho) viajaram ao Rio de Janeiro e sob a produção do então radialista Adelzon Alves cristalizaram em 12 canções a mistura perfeita entre África e Brasil, louvando aos Orixás enquanto faziam samba, sambando enquanto tocavam cantigas de Xirê.
Depois ainda lançariam dois discos maravilhosos em 1975 e 1977 (sob os quais falaremos em outros dias), mas foi com Os Tincoãs que plantaram – ao lado da deusa-mulher Clara Nunes, é necessário frisar – a semente que germinou em muito do samba brasileiro da década de 70 em diante, de Martinho da Vila a Originais do Samba e Zeca Pagodinho, iluminando suas rodas com a energia dos terreiros. E décadas depois, graças a DJs, pesquisadores musicais e afins o trio baiano saiu dos guetos especializados para finalmente ser reconhecido como revolucionário e pedra fundamental da música preta brasileira.
Essencial!
Fonte: Pequenos Clássicos Perdidos