Trent Reznor foi o responsável por levar ao mainstream a desgraceira industrial de gente como Ministry e Skinny Puppy, quando em 1989 lançou Pretty hate machine, primeiro disco do Nine Inch Nails que mostrou ao mundo a possibilidade de “popularizar” aquela música híbrida, pesada e suja dos guetos sombrios.
Além disso, claro, havia a figura do Mr. self destruct em si: sexy, drogado, violento, intenso e transtornado, Reznor era algo como uma reencarnação reconfigurada e anômala de Jim Morrison e Sid Vicious, e este sem dúvida foi também um ponto importante nesse movimento iniciado no fim dos anos 80 e consolidado definitivamente em 94, quando nasceu o segundo filho do NiN, The Donward spiral.
Perdi as contas de quantas vezes ouvi este disco e suas faixas separadas. No auge do meu vício, naquela gangorra química que te empurra pra cima e pra baixo na mesma velocidade, vivia entre a euforia histérica de “March of the pigs” e a ponta da corda que é “Hurt” – um retrato empoeirado da triste realidade junkie e com certeza o momento mais intimista e exposto de Trent e seus fantasmas.
“Closer”, a quinta música de The Donward spiral, ganhou um clipe tão perturbado(r) quanto sua letra, e mesmo assim teve alta rotação na MTV e se tornou um quase hit (tocava – e deve tocar – pra caralho nas festinhas trevosas/alternativas aqui em SP).
Enfim, mesmo como todo seu peso e barulho (embora bem calibrados pelas mãos de Reznor e Flood) e sendo o primeiro dos discos conceituais/temáticos do Nine Inch Nails – a ‘espiral decadente’ que nomeia o álbum é a narrativa da vida e morte por suicídio de um personagem que perdeu a esperança no mundo, na humanidade, em deus e na porra toda – e assim tocando obviamente em temas não muito felizes, iluminados e bem aceitos como loucura, ateísmo e isolamento, The Donward spiral estreou na segunda posição da parada da Billboard e vendeu pra cacete (3.700.000 cópias só nos EUA, até 2011).
Tudo isso junto – a indiscutível perfeição do disco do começo ao fim, o sucesso comercial e de crítica – pôs o NiN um degrau acima de seus pares e transformou Trent Reznor numa espécie de super estrela e símbolo sexual. Se isso foi bom ou ruim pra eles tô pouco me fodendo não me importa, o lance é que levantou de vez a bola do industrial, abriu as portas pra uma porção de bandas até então pouco ou não conhecidas e, mais importante, abriu também a cabeça de um monte de gente pr’aquela música híbrida, pesada e suja dos guetos sombrios.
Essencial!
Fonte: Pequenos Clássicos Perdidos