Mark Lanegan – Has God Seen My Shadow? An Anthology 1989-2011 (2014)
A primeira vez em que vi alguém chorar pela morte de um ídolo eu tinha 13 anos, e foi uma pancada. À época meus poucos ídolos estavam vivos ou mortos há tempos, então perceber ali a tristeza escorrendo pelos olhos de um amigo foi um baque desconhecido, que nos anos seguintes eu também sentiria e passaria, infelizmente, a entender muito bem.
Desde o suicídio de Kurt em 94, vi seres humanos que ajudaram de alguma forma a fazer de mim o ser humano que me tornei partirem, e a cada partida um pedaço meu também ia embora. Se para alguns esse sentimento é incompreensível, para mim – e tantos outros – é como perder um(a) companheiro(a) de vida, alguém realmente próximo e importante.
Ontem a noite essa mesma dor voltou aguda com a partida de mais um parceiro de jornada. Mark Lanegan, o homem da voz de trovão que cantou como poucos os tormentos da alma humana – e desde minha adolescência traduziu com suas palavras muito do meu próprio caos, angústias e amarguras – partiu deste plano, deixando uma longa história a ser contada eternamente através de suas canções.
Talvez um dia eu volte aqui e escreva mais sobre essa história, talvez (como fiz com Bowie, outro saudoso amigo de longa data) prepare uma edição especial do programa dedicada a Mark. Por hoje só quero escutar sua voz mais uma vez e deixar a tristeza escorrer pelos meus olhos.
Vá em paz, meu velho. Adeus e até um dia
Fonte: Pequenos Clássicos Perdidos