Quando escutei este primeiro e homônimo disco do duo Lamb em algum momento ali pelo final dos anos 90 não dei muita bola, talvez por estar imerso em eletrônica mais pesada ou de pista, talvez por achar que tudo ali – eles, Morcheeba, Sneaker Pimps, etc – era subproduto do Portishead, enfim, não me lembro porque não lhe dediquei atenção.
E aí, com o passar das décadas (décadas, bicho, décadas…) me esqueci completamente dele, até que recentemente me apareceu de forma aleatória “Cottonwool”, a terceira faixa do álbum, com aquele baixo de jazz sampleado e recortado na introdução seguido pela voz de Louise Rhodes, depois o riff de sintetizador sinistro, o teclado sutil e aquela batida quebrada à jungle que tanto amo…pronto, pus o álbum pra tocar e cá estou eu, vinte e tantos anos depois daquela primeira audição, abduzido por Lamb, o disco.
Se o diabo mora nos detalhes, ele certamente habita a estreia de Louise e Andy Barlow, porque pra além do ‘mix básico’ de trip-hop, jungle, ambient e big beat que constitui de forma grosseira o debute da dupla de Manchester, são os pormenores que capturam o ouvinte e não o deixam escapar. A produção rica e minuciosa de Barlow enche Lamb até as bordas com incontáveis instrumentos sintetizados, sampleados e transformados que vão lhe conferindo diferentes nuances e o transformam numa colcha de retalhos rítmica sombria e jazzeada; essa confecção combinada aos vocais soulful/emocionais na medida certa de Rhodes formam um dos trabalhos mais inebriantes da vasta cena eletrônica noventista. Aliás, não só noventista.
Qualquer dia desses volto aqui pra falar sobre algum dos dois álbuns seguintes do Lamb, também redescobertos recentemente e igualmente viciantes. Por hora, só agradeço ao acaso por ter me trazido novamente este disco e por eu tê-lo finalmente absorvido como se deve.
Ouça no talo!
Fonte: Pequenos Clássicos Perdidos