Longe de mim me meter a esmiuçar a longa carreira de Chet Baker, o trompetista branco que inovou o jazz preto quando, ainda à época de seus tenros vinte e poucos anos, tirou sua boca do trompete e a pôs a cantar, revolucionando o chamado cool jazz e assim recebendo o título de ‘Prince of Cool’.
O homem que se tornou notório também pelo vício em drogas que o acompanhou até sua morte, em 1988, começou a soltar a voz a pedido da mãe enquanto fazia parte do quarteto de Gerry Mulligan (ou Jeru) – outro chegado na brown sugar que levou Baker ao poço sem fundo da adicção – e em 1954 lançou o álbum que roda em nossa vitrola virtual agora, Chet Baker sings.
A versão do link abaixo é a da reedição do disco, de 1956, o que em nada muda seu conteúdo a não ser pelas faixas extras. Aqui Chet, que teve que bater o pé e brigar com o cético produtor Dick Bock para gravar o álbum, mostrou ao mundo que para ele cantar era ‘apenas’ uma extensão de sua forma de trocar trompete; como dito depois por sua esposa Ruth Young, para ele as palavras eram meras notas. Talvez por isso não tenha se importado com o fato do pianista Russ Freeman ter escolhido a maioria das canções para o registro: ele poderia executar qualquer uma delas.
Sua forma melódica, delicada e monótona de canto dividiu e divide opiniões, mas a despeito do que se pense a respeito é inegável a influência posterior de músicas como “I fall in love too easily”, “Time after time” e, claro, “My funny valentine” em cantores e cantoras de jazz e além dele (basta pensar, por exemplo, em Stuart Murdoch).
Mas afora esses fatos e suposições, neste domingo gelado e chuvoso de agosto nenhuma companhia poderia ser melhor que Chet Baker sings. Então cante pra nós, Chet
No spotifuck
Fonte: Pequenos Clássicos Perdidos