Começando esta pequena história de uma forma diferente, é preciso dizer que o Blue Orchids só existe devido ao instável e saudoso Mark E Smith. Explico: Após formar o Fall e gravar um EP e o primeiro álbum da banda, ele demitiu o guitarrista Martin Bramah e o tecladista Una Baines – leia-se metade do grupo – porque (segundo o próprio Markão) ambos queriam fazer uma música mais acessível. Eles decidiram chamar alguns amigos e assim, graças a um chute no traseiro do eterno Mr. Pharmacist, nasciam as orquídeas azuis.
A despeito das ‘divergências musicais’, é inegável que a dupla, agora acompanhada de Rick Goldstraw, Steve Toyne e Joe Kin manteve-se, ao menos no início, musicalmente ligada às suas raízes ‘fallianas’, mas com a adição DAQUELE Hammond, acerca do qual voltarei a falar depois.
Bem, reza a lenda que John Cooper Clarke sugeriu que a nova banda fosse batizada como Blessed Orchids, mas que devido a alguma confusão feita pelo guitarrista (Goldstraw) o ‘blessed’ foi trocado por ‘blue’ e no fim das contas ficou por isso mesmo. Antes de seus primeiros registros pela Rough Trade como Blue Orchids serviram como banda de apoio para a turnê europeia de Nico, o que só veio a reforçar – após o lançamento do primeiro single do grupo, The flood/Disney boys, em 1980 – as comparações com a ex-banda da mulher de gelo, uns tais Velvet Underground.
O lance é que tanto essas comparações quanto a minha afirmação feita no segundo parágrafo são verdadeiras: ao se escutar The greatest hit (Money mountain), o primeiro disco cheio dos Orchids que gira agora por aqui, é impossível não traçar um paralelo com Fall e Velvet. Os vocais de Bramah, por exemplo, são uma mistura estranha de Mark Smith com Lou Reed, tanto falados quanto desleixados; a música é minimalista, suja e psicodélica de uma forma esquisita, como o Velvet ensinou a todos que vieram depois. Inclusive ao Fall, claro (vá direto a “Hanging man” e saque exatamente o que quero dizer).
Um ano após debutarem, lançaram um EP (Agents of change) e se separaram pela primeira vez. Em 1984 fizeram as pazes, em 85 se divorciaram novamente, em 1991 Martin Bramah juntou outros músicos e reformulou a banda, depois entrou de novo num hiato e desde o começo dos anos 2000 mantém o Blue Orchids na ativa, gravando (bons) discos e fazendo shows. Ufa!
Ah, sobre AQUELE Hammond (risos), basta escutá-lo e entender de onde veio o teclado de churrascaria que é marca registrada de outra referência da música de Manchester, o Inspiral Carpets.
PS: esta versão de The greatest hit é acompanhada pelo EP Agents of change e por uma cover de “All tomorrow parties”. Ouça no talo!
Fonte: Pequenos Clássicos Perdidos