Betty Davis – Betty Davis (1973)

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Durante os anos em que esteve em atividade Betty Davis foi um furacão sem precedentes. A menina nascida na Carolina do Norte na metade dos anos 40 se mudou para Nova Iorque aos 16 anos para trabalhar como modelo, mas ao contrário do grosso das parceiras de trabalho, Betty tinha um cérebro fervilhante de ideias, e nos rolês pela cidade se embrenhou pelo universo da música, conhecendo gente como Hendrix e Sly Stone. Era o começo do fim de sua curta história como modelete.

A amizade com o cantor Lou Courtney a levou a gravar seu primeiro single e a escrever uma canção de sucesso para os Chamber Brothers (“Uptown (to Harlem)” em 1967, mesmo ano em que conheceu Miles Davis, com quem se casou já em 68. O casamento conturbado terminou um ano depois, e deixou marcas profundas na vida de ambos: a influência de Betty na música de Miles – através de experiências ao som de dos dois amigos citados parágrafo anterior – levou o trompetista a cometer álbuns como Filles de Kilimanjaro (é dela a fotografia na capa), Bitches brew e On the corner; já Betty conheceu os muitos e tortuosos caminhos da indústria musical, além de – graças ao temperamento de seu ex-marido – se descobrir ainda mais feminista.

Dois anos após a separação ela se mudou para Londres para retomar a vida de modelo, mas em pouco tempo já estava de volta à música, escrevendo canções que pretendia gravar com Santana quando voltasse aos EUA. Mas acabou por fazer tudo à sua maneira, terminando de escrever e arranjando ela mesma suas faixas. O primeiro e homônimo disco veio em 1973 e, puta que o pariu, é uma bomba de groove e psicodelia, escorrendo sexualidade pelos sulcos. O time de músicos reunido pra realizar o álbum traz Greg Enrico (Sly and The Family Stone), Neal Schon (Santana) e Sylvester, entre outros, e o que construíram ali foi um dos maiores petardos da música preta de todos os tempos, com A voz e A figura de Betty Davis sempre à frente.

Saca o que chamam de deep funk? Pois então, basta descer a agulha ou apertar o play em “If I’m in luck I might get picked up” pra entender na prática o que significa o termo. Junto ao andamento arrastado, um riff chapado de guitarra, aquele Hammond clássico e de repente A voz rouca de Ms. Davis:

‘I said if I’m in luck I just might get picked up
I said I’m fishin’ trick and you can call it what you want then
I said I’m wigglin’ my fanny (ha ha oh man get down)
I want you dancing I’m a doin’ it doin’ it (get down)
This is my night out…’

Daí em diante essa combinação avassaladora vai pondo tudo abaixo e ao final dos enxutos 30 minutos do disco a sola dos pés está em chamas e o suor desce solto pelo corpo. Não há uma única faixa ruim e/ou dispensável na estreia de Betty Davis, e passados quase 50 anos de seu lançamento ele permanece como uma das pedras fundamentais da chamada black music. Aumente o volume e ateste.

Essencial!

 

Fonte: Pequenos Clássicos Perdidos

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