Ainda há em pleno 2023 quem creia que o pós-punk se resume a um tipo de sonoridade/estética, que existe basicamente entre os tons de cinza do Joy Division e o buraco negro de onde não param de sair crias trevosas de Bela Lugosi. Mas contra fatos, não há argumentos.
E o fato é que desde a segunda metade dos anos de 1970, em paralelo à insurgência punk, muita gente passou a usar da atitude ‘faça você mesmo’ para ir além do one, two, three, four e assim, sob o imenso guarda-chuvas do tal rótulo pós-punk, experimentar com dub, funk, jazz e o que mais viesse à telha. Nessa toada, surge o 23 Skidoo.
Formada pelos irmãos ninja Johnny e Alex Turnbull (mestres em artes marciais, daí a brincadeira) e Fritz Haamann, a banda começou seguindo a citada cartilha cinzenta com “Ethics”, seu primeiro single, mas logo a influência industrial/experimental de seus conterrâneos/contemporâneos Throbbing Gristle, Cabaret Voltaire e cia. e da música preta de gente como Fela Kuti, Miles Davis e do jovem hip-hop ianque afloraria, e o resultado dessa babilônia musical é Seven songs, seu debute, de 1982.
Logo de cara, com “Kundalini”, já se percebe os efeitos da mistura entre ritmos tribais e pancadas eletrônicas dos skidoos; é uma faixa dançante, óbvio, mas ao mesmo tempo esquizofrênica, com um sem número de interferências e ruídos, completamente diferente do afrobeat funkeado e instrumental de “Vegas el bandito”, que vem logo depois. Então entra “Mary’s operation” e você pensa: ‘caralho, isso aqui tá ficando meio assustador e ilógico’.
Bom, talvez essas duas palavras sirvam mesmo pra definir a sonoridade de Seven songs. Não há uma bússola que guie o ouvinte por seus caminhos ou uma fórmula para decifrá-lo facilmente (apesar de sua verve percussiva) e de músicas como “New testament” ou “Porno base” – e suas colagens – serem, no mínimo, de dar medo.
A versão do disquinho que roda aqui no PCP é a do CD japonês, de 2008, com alguns extras, incluindo os 10 minutos da viagem insólita “The gospel comes to New Guinea”, lançada como single em 81 e já mostrando qual é a pegada do 23 Skidoo.
Descubra ou redescubra. E segura a trip!
Fonte: Pequenos Clássicos Perdidos